Monday, December 26, 2005

Da beleza dos padres *

Um padre quer-se de boa aparência mas não demasiado bonito.
Do ponto de vista teológico, esta necessidade não fará propriamente sentido mas, como em tudo, a beleza também não fica à porta da Igreja. É sabido que as mulheres sempre comentaram o aspecto físico dos padres. E a verdade é que estamos mal habituadas, basta repararmos nas imagens ou nos filmes bíblicos. Por outras palavras, não é só a Maria Madalena que é representada pela Monica Belluci: Jesus Cristo é invariavelmente um belo homem. Como se a fealdade pudesse conspurcar de alguma forma a sua pureza ou, pior ainda, decepcionar as devotas. Não sei como é nas outras religiões mas, na Católica, os Jesuítas sempre venceram – e com louvor – esta mais ou menos saudável competição entre ordens. (Não é por isso que é a minha ordem de eleição; sendo, porém, uma agradável coincidência.)
No entanto, um padre demasiado bonito torna-se problemático. Durante a missa desconcentra e depois da missa culpabiliza. Um amigo meu diz-me que, durante o noviciado, os futuros sacerdotes debatem e aprendem a lidar com mulheres que se apaixonam ou que julgam estar apaixonadas por eles – parece ser um fenómeno recorrente. Um padre muito bonito será, sem dúvida, um difícil desafio mas, convenhamos, como cartão de visita…

* Este post tem dupla inspiração: a Missa do Galo de ontem e este post – magnífico, como sempre – da Ana Sá Lopes.

Já sei onde é que eles andam

Na Missa do Galo de ontem, um grupo de jovens rapazes captou a atenção de todos e, especialmente, de todas. A presença de um número invulgar de noviços alegrava a Igreja. Alegrava, contudo, um bocadinho demais. Nomeadamente aquele que fazia lembrar o Gael – que tentação, meu Deus. A minha alma católica ficou dividida. Ninguém concorda mais do que eu que a Igreja precisa, desesperadamente, de sangue novo. Mas é caso para dizer que não havia necessidade de serem tão bonitos.
Já não bastava os giros e bons rapazes serem casados ou gays, agora também vão para padres. As categorias de inatingíveis não param de aumentar.

Saturday, December 24, 2005

Leitura indispensável nesta quadra

«O Natal na infância vive em todos os natais, embora estes sejam vividos de outra maneira. Mas há algo que se mantém: o secretismo em torno dos presentes. (…) Trata-se de um exercício de manipulação amorosa, de diversão no seu estado mais puro; enfim, um acto de cuidado, atenção e amor. (…) Um bom segredo não se fecha numa gaveta qualquer e pronto. Tem de se levar, buscar, trazer, dá uma carga de trabalhos e é por isso que dar um presente a alguém é um acto de amor. Não é dar simplesmente.»

[Bomba Inteligente, O Segredo]

(Até porque já chateia um bocadinho aquela coisa do «detesto o Natal»)

Boas festas

Este mês foi um bocado caótico em termos de trabalho. E eu também sou famosa por deixar tudo para a última da hora, verdade seja dita. As actualizações (guardadas no meu caderno) ficam para quando eu conseguir ter um tempinho - o que neste interregno a que as pessoas insistem em chamar de “férias” não vai acontecer de certeza. Resta-me, por isso, desejar-vos um feliz Natal. Ainda cá venho para os votos de ano novo.

Saturday, November 26, 2005

Segredo para acabar com as noites mal dormidas

Em vez dos tampões para os ouvidos, phones. «Cordeiro de Nanã» do Amoroso/Brasil. João Gilberto, Caetano e Gil – a sussurrarem só para mim. Um minuto e vinte segundos de pura doçura. Em modo repeat. E durmo embalada.

Sunday, November 20, 2005

Querido diário

Como é que é? Isto agora vai ser o Pai Nosso de cada dia? Noites mal dormidas, completo zombie no trabalho, olheiras do tamanho de sei lá o quê… É que quando se tem um «cavalheiro rico, bem parecido, com alma de poeta, cabeça de filósofo e coração de manteiga» (excelente síntese, by the way) para nos abraçar a noite toda, os temporais até têm alguma piada. Agora assim… não há lareira, cobertor ou luz acesa que aguente. Convinha que voltássemos ao nosso tempinho tradicional – muita chuva miudinha e uma brisa, nada de furacões. E até lá se calhar o melhor é arranjar uns tampõezinhos para os ouvidos, não?

Tuesday, November 15, 2005

Mais uma história mínima

[versão Gato Fedorento]
«Era uma vez um rapaz que perguntou a uma rapariga:
– Queres casar comigo?
Ela respondeu:
– O que tu queres sei eu.»

Saturday, November 12, 2005

Vale a pena ler

A confissão da China Blue.

Thursday, November 10, 2005

Blog zapping (19)

«Quando me casei tive mais um mês de férias que a minha mulher e gravei dois discos. Ficou nesse período selado que se a música não servia para o meu sucesso então integraria o meu mais credível fracasso.»

[Tiago Cavaco, Lamento publicitário]

Sunday, November 06, 2005

Paris in flames: the limits of repression

«Repression has shown its limits. Not that it is useless or harmful, as any government has to protect its citizens against crime. But a repressive policy cannot compensate for racial and social integration, nor offer an answer to discrimination, the housing problems of ghettoised suburbs and (above all) to the unemployment which hits the immigrant population even harder than the majority of job-seekers. Histrionic posturing to attract voters in pre-electoral times can cause more harm than good especially when the very social structure of France is at stake

[Patrice de Beer]

Saturday, November 05, 2005

Sensibilidade de género

Nos avisos dos maços de tabaco, os homens não querem ler que causa impotência; as mulheres que provoca o envelhecimento da pele.

Thursday, November 03, 2005

The simpsons

- Oh Marge, you must hate me for failing.
- Oh Homie, I don’t hate you for failing. I love you for trying.

Tuesday, November 01, 2005

Presente de anos


[tomei a liberdade de ir fechando as persianas]

Monday, October 31, 2005

Dividir para reinar

O maradona é um blogger com uma causa. Com a particularidade da sua causa excluir todas as outras. Deve ser por isso - e for the sake of his argument - que está convencido que as alterações climáticas não afectam os belíssimos animais que expõe, com regularidade e para nosso gáudio, no seu blogue.

[Entretanto o maradona trocou-me as voltas ao desaparecer com o belo Leopardo-das-neves(-derretidas) e o respectivo texto que o acompanhava e agora ninguém percebe nada deste post.]

Thursday, October 27, 2005

Querido diário

Hoje não dormi nada bem. Viver nas alturas dá direito a uma vista desafogada mas torna-se demasiado vulnerável a ciclones e intempéries. Não preguei olho a noite inteira com o vento a estoirar-se contra as persianas, as portas a competirem para ver quem batia com mais força e aquele vvuuuuuuuu…vvuuuuuuuu assustador que vidro duplo nenhum consegue anular.
Passei a noite toda encolhidinha na cama, a luz acesa e o edredon por cima da cabeça. E acordei a pensar na falta que faz um homem em casa.
Ou um cão.

Monday, October 24, 2005

O princípio do fim

O J. foi promovido e mudou de gabinete. Como o J. partilhava o gabinete com o L., o L. ficou momentaneamente sozinho. Digo momentaneamente porque a I., mulher do L. que também trabalha connosco, não deixou que passassem nem 24 horas para se mudar para o gabinete do seu amado. Empurrou toda a tralha do J. para um canto do gabinete – não fosse ele demorar demasiado tempo a ir buscá-la – e tratou de ocupar a sua secretária, as estantes e o cabide. Agora sim o seu sonho está cumprido: passa as 24 horas do dia colada ao seu marido. Que lindos momentos se devem passar dentro daquelas quatro paredes. Querido, passas-me o furador? [enjoo] Pitéuzinho, hoje quando sairmos daqui vamos juntos ao supermercado antes de irmos para casa. [vómitos] Amor, quem era aquela mulher ao telefone? [o princípio do fim]

Saturday, October 22, 2005

Blog zapping (18)

«As pessoas casadas (ou equiparadas) são geralmente cépticas face ao romantismo. É normal: todas as pessoas sensatas são geralmente cépticas face ao romantismo. E o casamento está mais próximo da sensatez que do romantismo. O romantismo é uma coisa embaraçosa. É uma miragem. Um tumulto. Um equívoco. Mas toda a gente em certo momento é assim e se comporta assim: com um entusiasmo juvenil quase pateta. Contra toda a racionalidade e sem nenhuma estratégia. Apenas seguindo os sentimentos (e sei que esta é uma palavra escorregadia).»

[Pedro Mexia, Atravessar o rio]

Sunday, October 16, 2005

Hora da parvoeira (1)

[Discute-se, no café, os próximos doze meses da vida do B. num dos reputadíssimos estágios do ICEP. Por norma, a localização é sempre guardada até à última. Certamente para o efeito surpresa resultar melhor.]
- Já sabes para onde vais?
- Pelas minhas contas, tanto posso ir parar a uma aldeia remota na China como ao norte da Suécia.
- A Suécia parece-me muito bem.
- Tem um certo apelativo feminino.
- Pois… Mas, no Inverno, o número de horas de luminosidade é contado por mês – de tão escassas que são. Não sei se vou aguentar.
- Não estás a ver bem a coisa. Isso de ser noite o tempo todo tem imensas potencialidades.
- Tais como?
- Já viste a duração de uma one night stand num sítio desses?

Monday, October 10, 2005

Autárquicas (I)

A troika Valentim, Isaltino e Fátima ganhou, sem grandes surpresas, as eleições nos respectivos burgos.
(E eu que não gosto nada daquela frase «o povo tem os líderes que merece».)

Autárquicas (II)

Quanto à derrota do Avelino e a respectiva culpa dos jornalistas, como dizia o Miguel Sousa Tavares, estamos todos tão orgulhosos dessa bela profissão.

Autárquicas (III)

Proponho que o momento mais triste da noite seja atribuído ao Rui Rio a cantar o hino nacional.
Já que as barbaridades do Avelino nos deram um gozo especial, a exaltação à beira do enfarte cardíaco de Valentim soou demasiado a déjà vu e o discurso da Fatinha entediou de morte.

Wednesday, October 05, 2005

Ter um blog

Persianas abertas, porta fechada.
(Pela janela, vê quem quer mas apenas o que queremos mostrar.)

Saturday, October 01, 2005

Blog zapping (17)

«O sofrimento é mais real do que parece, mais inútil, menos metafísico. E nasce um grande respeito por aqueles que, tocados por doenças terminais, resistem até onde podem; ou desistem, com ou sem dignidade. A dignidade é boa para observar nos outros. Mas morre-se bastante sem que a dignidade nos devolva a vida. Não tem nada a ver com tranquilidade, com esperança, com determinação. Morrer com dignidade, morrer em silêncio, deixar um rasto de coisas por fazer. Não há mais nada, em certas alturas.»

[Francisco José Viegas, Corpo, traiçoeiro]

Tuesday, September 27, 2005

«As minhas peças são burguesas. Eu gosto do desespero da classe média.»

Miguel Falabella – tal qual um príncipe, não dinamarquês mas tão brasileiro – numa bela entrevista com a Ana Sousa Dias.*

* A Ana Sousa Dias não é, de facto, a entrevistadora mais à vontade nem eloquente do panorama televisivo português. Mas tem um ponto forte, além da escolha dos convidados: as suas debilidades ao nível da oratória levam-na a ouvir mais do que a falar. Torna um defeito numa grande qualidade. O mesmo não se pode dizer de muita gente.

«Hoje em dia Freud já se foi. A gente não se questiona mais, a gente toma um prozac.»

E ainda se fartou de citar o Nelson Rodrigues, o que por estas paragens é bastante apreciado.

Monday, September 26, 2005

Tecnologias à parte

É por essas e por outras que os meus namorados sempre receberam cartas minhas. Se as quiserem rasgar ou queimar, será inevitavelmente um acto solene.

Saturday, September 24, 2005

Blogue em modo preguiça

Just until I snap out of it.

Friday, August 19, 2005

Breve passagem, ontem, pelo Festival de Paredes de Coura para ver a estrela da noite: Nick Cave & the Bad Seeds.
Ele é um espanto em palco, o espectáculo foi óptimo e a companhia a melhor possível. A Juliette Lewis (actriz) também parou por lá; pelos vistos tem uma banda para se entreter e é passada da cabeça. O Vincent Gallo mais valia dedicar-se aos filmes – foi péssimo e pôs toda a gente a dormir. O resto das críticas podem ler nas revistas da especialidade.

Sunday, July 24, 2005

(em actualização)
(mais ou menos)
(mais para o menos)
(ok, pronto, nem por isso)

Saturday, July 23, 2005

Quem tem férias antes do tempo

Ressente-se quando regressa. (Que belo provérbio que isto dava.)
Muito trabalho acumulado tem impedido a actualização deste blogue. Espero conseguir dar conta do recado nos próximos dias.

Tuesday, July 05, 2005

Monday, July 04, 2005

Friday, July 01, 2005

Eurasia Mix


[sms]
- Feels like Europe?
- It’s a good mix. Mas que elas, à noite, usam umas roupas bem apertadinhas e uns grandes decotes… lá isso usam.

Tuesday, June 28, 2005

Thank God for small favours

Reunião em Istambul nos próximos dias.
(Sabe quase, quase a férias.)

Friday, June 24, 2005

Serendipity

Costumava deliciar-me com um certo tipo de pormenores que confluíam para eu construir o nosso amor romântico. Como o facto de haver um atalho, no meio dos prédios, entre a minha casa e a tua. Ou fazeres anos tão perto de mim.
O dia de hoje, depois de sete anos a celebrá-lo em sintonia (ainda que nem sempre juntos), custou muito, mesmo muito a passar.

Tuesday, June 21, 2005

Ai

- Estão aqui os medicamentos.
- Ai.
- Achas normal andares dois dias inteiros a empanturrares-te de todos os petiscos que sobraram da festa?
- Ai.
- Incluindo os que não conseguiste enfiar no frigorífico com um calor destes?
- Ai.
- Agora admiras-te de teres dores de barriga.
- Ai.
- E ires à casa de banho dez vezes por dia.
- That’s an understatement.

Saturday, June 18, 2005

Nham...

Ai Muska... nem te digo o que eu fazia com o Bradzinho e umas quantas cerejas.

PS - Você é que é linda. Mais que demais.

Monday, June 13, 2005

Sofre para dentro

Já vos tinha falado da necessidade de acordar com boa música logo pela manhã. Pois ele há fases em que é perfeitamente imprescindível para determinar o humor das horas seguintes, em especial a uma segunda-feira.
Estar no banho e começar a dar aquela coisa intragável do «If You're Not The One» é tiro e queda para um dia estragado. E não, não é por causa do tema; eu estou sensível mas não em relação a versos destes: «If you're not the one then why does my hand fit yours this way?» ou «If I don't need you then why am I crying on my bed?» ou ainda «If you're not for me then why do I dream of you as my wife?». E muito menos cantados em falsete.
Depois de um fim-de-semana…como dizer…emocionalmente farto, estou decidida a dar um basta e resolvo sair da banheira apressada para mudar de estação. A pressa é, como sabem, inimiga da perfeição, pelo que acabei por escorregar e mandar um tralho daqueles. Pior do que ouvir Daniel Bedingfield, é ouvi-lo estatelada no chão, nua e encharcada. Quite humiliating.
Dia arruinado de vez e um mau humor de cão é o resultado deste ligeiro percalço.
Querido Daniel, a vida é difícil, os amores complicados e a compreensão é muita. Mas tem limites. Eu não me ponho a escrever letras de merda e a compor musiquinhas de ir ao pêssego. Tenho um blogue e aborreço de morte os meus leitores mas não estrago o dia a milhares de pessoas com o mínimo de gosto musical. (Lembrar de escrever um hate mail ao dj que também tem culpa no cartório, assim que chegar ao escritório.).
Dá ou não dá vontade de dizer “sofre para dentro”?

Sunday, June 12, 2005

Os opostos atraem-se

[but someone’s got to give in]
A minha Mãe é frenética – sempre de um lado para o outro; o meu Pai um pacato que prefere ficar por casa. Depois de um fim-de-semana agitadíssimo, ensaio uma provocaçãozinha:
- Espectáculo em Lisboa sexta à noite, casamento em Viseu no sábado e almoço em Coimbra no domingo. Para um anti-social
- Estou completamente exausto.

Saturday, June 11, 2005

Naquela Estação

(Adriana Calcanhoto)

Você entrou no trem
e eu na estação vendo um céu fugir
também não dava mais para tentar
lhe convencer a não partir
agora tudo bem
você partiu para ver outras paisagens
e o meu coração embora finja fazer mil viagens
fica batendo parado naquela estação

Friday, June 10, 2005

Os homens também choram (2)

Uma fragilidade que, em ti, não se limita a comover-me. Tem um poder de sedução inexcedível. Que vai muito além da vontade de dar colo.

Os homens também choram

Aí está uma (aparência de) fragilidade que me encanta.
Que Jorge Sampaio fique com a voz tremida e as lágrimas nos olhos em plena cerimónia oficial, no papel de Presidente da República (espaço, por definição, do formal e do masculino), é, para mim, comovente.

Encontro imediato de terceiro grau (2)

Escusado era a cabeça a pesar juntar-se ao nó na garganta do dia seguinte.

Thursday, June 09, 2005

Mood for the day

- Pode ser uma caipirinha. Bem servida.

Encontro imediato de terceiro grau

Sim, é para oferta. Vou ali dar uma vista de olhos na secção de literatura estrangeira enquanto faz o embrulho. Em destaque está o último do Paul Auster, A noite do oráculo. Espreito o início – tenho a mania de ler a primeira frase, a segunda, a terceira… até me lembrar de onde estou. Assim que termino viro-me para a caixa… E os olhos cruzam-se, finalmente. E permanecem vidrados durante um tempo parado em si mesmo. Os sorrisos abrem-se num impulso, até nos darmos conta de que estão abertos. Compomo-nos desajeitadamente. Agora mais sóbrios, cumprimentamo-nos. Escusado era o meu coração a querer saltar pela boca e a ocupar-me a garganta toda. Empurro-o à força de volta para o lugar e solto um «olá» praticamente imperceptível. (Quando se tem tanto para dizer o melhor é não dizer nada.) Passo por ele mas não resisto a um beijo na cara. Doce e magoado. Sabes bem que não dou beijos na cara assim a mais ninguém.

Adenda: O amor romântico – aquele inventado por certas mulheres (e certos homens) – não morre, quando muito hiberna. Para ser ressuscitado a nosso bel-prazer. Quando se torna imprescindível para remendar estragos e fazer do acaso destino. (O que pode significar uma necessidade a tempo inteiro, se nos viciamos e insistimos em não nos livrarmos dele).

Monday, June 06, 2005

Acordei ligeiramente dorida

Sinto-me como se tivesse feito quatro horas seguidas de body combat (e só eu sei há quanto tempo não ponho lá os pés)... Mas a entrada da minha casa está linda e resplandecente (para contrastar com o estado de alma).

Sunday, June 05, 2005

Terapia – segunda tentativa*

[ou: podia ter-me dado para pior]
Tinta branca? Está.
Tinta amarela? Também.
Pincéis e rolos? De todos os tamanhos e feitios (como principiante que sou).
Fita adesiva? Muita – intercalar paredes brancas com amarelas dá um trabalhão do caraças.
Jornais? Expresso, obviamente.
CDs? Prontíssimos. De música clássica, para dar um tom solene à coisa.

* Em regime de acumulação, claro está.

Saturday, June 04, 2005

Hummm... amarelo!

Vou pintar as paredes do hall de amarelo.
Lembrei-me eu, de repente, a meio da noite.

[Não, não estava a fazer o mesmo que a loira da anedota. I wish…]

Friday, June 03, 2005

Lost in translation

No West Wing, «rogue state» é traduzido por «nação tratante». O que quer que isso queira dizer.

[No Cambridge Advanced Learner’s Dictionary, entre outras definições, aparece «a person who behaves badly but who you still like»; e dá como exemplo "Come here, you little rogue!".
Que bonito mote para o próximo encontro entre Bush e Kim Jong Il…]

Thursday, June 02, 2005

Um muito especial

A «nossa» Ally McBeal tem uma boa explicação – simples e eficaz – para o fenómeno de que te queixas (e com o qual me identifico):
- Ally, what makes your problems bigger than anyone else’s?
- They’re mine.

Wednesday, June 01, 2005

«What I feel is what you feel too. We keep forgetting that.»

Paul Auster entrevistado por Ana Sousa Dias, há dois minutos atrás, n’A Dois. Tão básico. And yet...

Tuesday, May 31, 2005

Sonhar acordada

E deixar a vida real para ser encarada com muito, muito sono.

(Ora aí está um belo modo de vida para quando «aquilo» insiste em escapar-se por entre os dedos.)

Monday, May 30, 2005

Caros leitores babados,

Se acham que o melhor deste blogue são as fotos, desenganem-se. Reparem só nos títulos. (Tipo este.)

Sunday, May 29, 2005

A problem with self-esteem?

Where on earth did you get that idea?

Escrever sem postar tem as suas vantagens

Como poder continuar a lavar os olhinhos assim que abro este blogue.
(E se não passasse dos drafts nos próximos tempos, ainda era um duplo favor que vos fazia.)

Friday, May 27, 2005



Perante o trailer do Mr. and Mrs. Smith, na habitual apresentação dos “filmes a exibir” anterior ao Star Wars, escapa-se um comentário fulminante e corrosivo:
- Ninguém se divorcia do Brad Pitt. Ninguém. Aposto que, desde que acordou para a vida, aquela tonta ainda não parou de chorar pelos cantos, arrependida até ao tutano pela colossal burrice cometida.

Ao que o M. acrescenta com displicência que, se o problema era a Angelina, em vez de se separar, mais valia ter embarcado numa ménage à trois. [Que é como quem diz nas entrelinhas que a Angelina é tão boa, tão boa, que nem mesmo as mulheres resistem.]

Thursday, May 26, 2005

Antes de entrar para o Star Wars*

- Boa noite. O que desejam?
- [Ser indecentemente roubados] Um pacote de pipocas XL, por favor.


* Vá-se lá saber por que terei achado que valeria a pena ir ver. O Anakin é péssimo – já se tinha percebido no episódio anterior e continuo sem entender onde é que o foram buscar; a história de amor mete dó – com aqueles diálogos nem a Natalie Portman se safa; e toda a euforia à volta dos efeitos especiais que são “francamente melhores que os das restantes prequelas” passam-me um bom bocado ao lado.
Pelo que, se nos ficarmos por aqui com os follow-ups, todos nós viveremos melhor.

Tuesday, May 24, 2005

Isso, estraguem-me com mimos que estou a precisar

Nick Cave em Paredes de Coura.

Monday, May 23, 2005

Troca de mágoas

- Isto não anda fácil. Passo o dia todo em casa, de fato-de-treino, a acabar a porcaria da tese; só vejo gente quando desço até ao tasco aqui de baixo para tomar um cafezinho de manhã; não saio à noite há meses; a minha vida sexual bateu no fundo e já nem o meu Porto me dá alegrias.

Sunday, May 22, 2005

SLB SLB SLB

Saturday, May 21, 2005

Dito e feito

Como «mergulhar num caldeirão de prozac»* não é bem o meu género, fui tentar o passeio à beira-mar. Como o M. foi colocado numa escola algures ao pé da Figueira, cravei o cabrio à minha irmã e lá fui ter com ele, de cabelos ao vento, óculos de sol e música aos berros – sim, sim, o cliché completo.
E o bem que me fez esta viagem…

* Esta expressão é óptima.

Friday, May 20, 2005

Terapias

- Então, como vai essa alma?
- Nada famosa. Mas este fim-de-semana vou tentar a terapia do passeio à beira-mar.
- Bons tempos esses em que essa terapia ainda funcionava… Agora só mesmo mergulhando num caldeirão de prozac.

Thursday, May 19, 2005

- Marge, I’m confused. Is this a sad ending or a happy ending?
- It’s an ending, Homer. That’s enough.

Wednesday, May 18, 2005

E a ti, posso abraçar-te?

O Luís falava há uns tempos atrás de ter como objectivo sair à rua e não trazer um cão para casa. Na altura, quando li o post, pensei que fosse só para ter companhia. Não é: é para ter a quem abraçar.

Tuesday, May 17, 2005

Vá, repete comigo

Mesmo quando não parece, mesmo quando não parece.

Falsas aparências

[ou: Há manhãs difíceis]
Tentar maquilhar-me enquanto as lágrimas caem cara abaixo não é tarefa fácil. E acaba por se tornar numa questão de teimosia. À quarta, quinta tentativa sou bem sucedida. Mas o fracasso é evidente.

Sunday, May 15, 2005

Heart, we will forget him!

You and I, tonight!
You may forget the warmth he gave,
I will forget the light.

When you have done, pray tell me
That I my thoughts may dim;
Haste! Lest while you're lagging.
I may remember him!


(Emily Dickinson)

[O que eu gosto deste ponto de exclamação.]

Saturday, May 14, 2005

Como se enganam tolos

[Uma achega sobre o sobreirogate]

Na segurança social, entre as senhoras que nos atendem com maior ou menor gentileza, consoante a personalidade, o vencimento, a altura do mês e a noite de ontem:
- Vocês já sabem que eu e o meu CDS…
- Oh Manuela, tem paciência. Para terem aprovado o projecto de construção daquela maneira é porque ali há marosca de certeza.
- Isso é a comunicação social que é de esquerda e, pior do que isso, anti-CDS.
- Deixa-te de desculpas esfarrapadas. Aquele abate dos sobreiros é um verdadeiro crime.
- O projecto é de utilidade pública. É melhor do que eles andarem para ali à sombra do sobreiro mas desempregados.
- Queres que o resto do país vire um novo Algarve, é? Cheio de prédios por todo o lado, feio e descaracterizado?
- Mas o empreendimento não era assim tipo Quarteira. Tinha vivendas bonitas, jardins, campos de golfe…

Friday, May 13, 2005

Adormecer e acordar

Ganharam todo um novo significado. Infelizmente.

Thursday, May 12, 2005

Mood for the day

- Sê uma querida e arranja-me um vodka daqueles, sim?

Wednesday, May 11, 2005

O problema de relações mal acabadas

É não se chegar a fazer o período de nojo. E, principalmente, fazer-se luto mais do que uma vez.

Tuesday, May 10, 2005

Tão certo que magoa

«As perdas não se escolhem, nem se acumulam para revisitação memoriosa. Impõem-se na sua absurda singularidade. De outro modo não nos detinhamos nelas. A menos claro, que fôssemos um sábio octagenário em tempo de balanços. Na maior parte das vezes somos assim mais como a Audrey Hepburn naquele momento do filme, estamos sempre assolados a viver o "antes" ou o "depois" de um "tarde demais".»

[Bruno (claro, quem mais?)]

E o pior

É que uma decepção nunca vem só.

Monday, May 09, 2005

SOS

Ninguém espera eternamente. E o que tememos por demasiado tempo acaba inevitavelmente por acontecer.

[Aviso aos leitores deste blogue: palpita-me que este pincel com vontade própria vai andar a pintar tempestades durante os próximos dias.]

Saturday, May 07, 2005

Big Brother in the bunker



O problema deste filme é o problema de todos os filmes à volta dos quais se criam demasiadas expectativas – é extremamente difícil não se sair do cinema defraudado. Ainda assim, gostei.
À excepção dos ódios que este tema suscita, não vejo grande razão para toda a celeuma à volta da «dimensão humana» de Hitler. Não me choca que ele fosse simpático para as pessoas que o rodeavam – fazia parte, parece-me, do fascínio que ele exercia. E essa mera simpatia como instrumento para criar lealdades é bastante diferente de construir verdadeiras relações afectivas – algo supostamente inalcançável para um psicopata. Além disso, fiquei com a ideia de que a humanização de Hitler no filme passava mais pela sua imagem de doente de Parkinson, decadente e desautorizado do que alguém benquisto pela sua entourage. Esta imagem de ruína é, aliás, a parte forte d’A Queda e tem valor por não ser tema frequente dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial.

Friday, May 06, 2005

Blog zapping (XVI)

«–Estou angustiado por te deixar, ouve-se a dizer.
Podemos saber se estamos apaixonados se nos ouvirmos a dizer coisas assim e elas soarem bem. É um critério estético. Alguma certeza deve existir e a congruência estética é um bom critério de verdade.»

[Luís, Lúcia e o sexo (2)]

Tuesday, May 03, 2005

Só para não parecer porta-voz (despeitada) deste discurso

Admite-se que as adolescentes também podem crescer e ficar assim.*
Olha, é esperar (sim, meus caros, esperar) para ver.

* Este blogue é um atentado ao ego de uma mulher. (Excepto a foto da Mariah Carey – nenhuma mulher no seu perfeito juízo fica intimidada por tal personagem.)

Prognóstico de uma obsessão

Alguns bloggers da praça andaram entretidos a descortinar os motivos da obsessão masculina por adolescentes:
1) a fantasia que só se justifica precisamente por ter lugar no plano da fantasia;
2) a mistura explosiva, personificada pela adolescente, entre pureza e inocência e laivos de malícia;
3) a busca da jovialidade e despreocupação perdida (não é à toa que a obsessão prolifera por entre os intelectuais, tornando-se mesmo na sua «imagem de marca»);
4) a relação com a adolescente como expressão do sistema de dominação patriarcal – propícia a uma «libido de posse» cujo expoente máximo corresponde à rapariga inexperiente e intocada.

A visão feminina «da coisa» gostaria de expor três ou quatro pequeninos pontos inevitavelmente presentes nas conversas entre mulheres sobre este tema:
1) delirar com adolescentes no geral (o que é claramente distinto de apreciar uma adolescente em particular) é sinal de infantilidade e insegurança – ao que se acrescenta entre dentes «cuidado com namorados com esses tiques…»;
2) os homens obcecados por adolescentes são potenciais candidatos às deploráveis crises de meia-idade (meia-idade aos 30, aos 40, aos 50…);
3) o que «eles» querem é manter o controlo da relação e, se esta for desigual (o que acontecerá mais facilmente com uma adolescente, por contraposição a uma rapariga mais madura), esse domínio estará praticamente assegurado;
4) a predilecção é fruto do medo de possíveis comparações com os fantasmas dos amantes do passado.

E a conversa acaba, normalmente, entre risinhos quando se invoca a enorme probabilidade dos “obcecados” terem decepções destas.

Sunday, May 01, 2005

Decotes, noivas e casamentos



Noiva, Paula Rego
Pastel sobre papel, 1994

No casamento deste fim-de-semana (este ano está recheado deles), a noiva estava um espanto – com um decote fundo e largo como eu nunca tinha visto para tal cerimónia. Mas daqueles «com tudo no sítio», como eu tinha explicado há uns tempos.
Convenhamos, a grande maioria das noivas é um bocado desenxabida; um número considerável tem um vestido bonito e está muito elegante; mas uma noiva sexy é coisa rara.
A A. – muito pouco dada a decotes no dia-a-dia – surpreendeu tudo e todos e entrou com uma segurança digna de se ver; o noivo, quando a viu, deve ter dissipado imediatamente quaisquer angústias teimosas – fruto do nervosismo, claro – que ainda tivesse sobre o enlace; e o mulherio (como um amigo meu costuma dizer) não parou de comentar, louvando a ousadia. O que só vem confirmar aquela velha ideia de que as mulheres se vestem para elas mesmas, para os homens e para as outras mulheres.
Convém referir que o casamento foi no civil. Não estou, de facto, a imaginar um padre a celebrar a missa perante um low-cut daqueles. O que é uma pena.

[E entretanto ouço uma voz a dizer «Que raio de católica que tu me saíste… Quase que te vendes por um decote. Quase.»]

Saturday, April 30, 2005

Here we go again

- Relações platónicas com ex-namorados não existem, pois não?
- Depende de quanto tempo já passou. Por norma, desconfio da passagem repentina para um “suposto” novo registo.
- Pois… a intimidade e a cumplicidade são extraordinárias mas inevitavelmente dúbias. E falta aquele ingrediente. Essa ausência está, aliás, sempre presente.
- Pareces angustiada.
- Tenho medo que se farte.

Friday, April 29, 2005

Ain’t she adorable?



«- How about dating?
- Dating? You mean like getting drunk and screwing?»

[Six feet under]

Thursday, April 28, 2005

Pequenas delícias (V)

A série Ella no Bomba.

[I hope you wake up «so in love» tomorrow.]

Wednesday, April 27, 2005

Blog zapping (XV)

«Pode até suceder que esteja bem-disposto, isso é irrelevante. Considere o abismo que vai da alegria à felicidade. Agora, sente-se. Experimente escrever sobre como o seu actual amor, resplandecente, atlético, saudável, irá, inevitavelmente, acabar. (Eu disse «pletórico»? - Não, não disse «pletórico»). Insisto: não basta pensar nisso, é necessário escrever, agora mesmo. Ai afinal não queria deprimir-se? Ah, bom, sendo assim, pronto, está bem.»

[Rui, Foi você que pediu?]

Tuesday, April 26, 2005

Quem tem uma «madrinha» assim tem tudo

Uma página na net só para dar os parabéns ao aguarela. Absolutamente mais ninguém se lembraria de tal gesto, cariño. Eu não mereço, eu não te mereço…

Monday, April 25, 2005

Parabéns a você

Lailailai lai lai lai,
Lailailaaaaaaiiiii lai lai laaaaai laaaaaaai,
Lailailai lai lai lai !

[foto roubada daqui]

Troca de sms às dez da manhã:
- Sempre!
- Sempre, não. Só depois de acordar.

Sunday, April 24, 2005

Corrida contra o tempo

Tenho que actualizar este blog até dia 25…

[Não consegui. O trabalho é muito e o Sr. Blogger não ajuda. Paris vai ter que ficar para os próximos dias.]

Friday, April 22, 2005

Paris (VII)

Último dia. Fones nos ouvidos, à espera para atravessar a rua. Um toque no ombro seguido de um pedido de direcções para o Budha Bar. E giro que tu és. «Je n’habite pas à Paris. Désolée.» Não me sorrias assim. E o sinal que nunca mais fica verde. Estou vai-não-vai para te contar que foi um arquitecto português a fazer a decoração do bar. Naaa… deixa de ser provinciana, miúda. E muito menos atiradiça. Não em Paris. Em Paris, é traição. Retribui o sorriso, volta a pôr os fones e atravessa enquanto suspiras. Vá, anda.

Thursday, April 21, 2005

Paris (VI)

Place des Vosges: vou, não vou? É melhor não. É perigoso mexer em memórias insuportavelmente felizes.

Wednesday, April 20, 2005

Paris (V)

Estou a precisar de uma pausa com… tarte aux pommes. Para compensar.

Paris (IV)

Ao menos teve o bom senso de não pôr nenhuma música do Chico. Embora a última da selecção seja o “These foolish things remind me of you”. (Que grande sacanice.)

Paris (III)

Estou há dias a ouvir músicas escolhidas pelo meu ex numa cidade onde já estivemos juntos. Não conheço ex-casal mais promíscuo que este.

Sunday, April 17, 2005

Paris (II)

Rodrigo Leão (as músicas francesas, em especial) para acompanhar o passeio pelo Sena; Nick Cave enquanto apanho um sol nas Tulleries; Morcheeba no Louvre; Holly Cole nos Champs ElyséesLe dimanche à Paris me plaît énormément.

[E afinal fico mais uns dias. Que chato.]

Saturday, April 16, 2005

Paris (I)

Jovem:
Se os teus amigos são uns tesos ou bué de ocupados; se já passaste a fase da puberdade mas as borbulhas são muitas e não há gajo/a que te agarre; se querias companhia para passar um fim-de-semana romântico mas vais ficar a olhar pelo canto do olho para todos os casais apaixonados que se passeiam pelo Sena… compra ao menos um MP3!

Friday, April 15, 2005



Tenho andado sem grande disponibilidade para me dedicar ao meu hobby mais que viciante. (O que me provoca suores frios de noite e me faz tremer o dia inteiro - sinal de privação, segundo dizem.) Peço desculpa aos fiéis leitores que já estão cansados de dar com a porta na cara de cada vez que cá vêm. Tenho só mais uma prioridade antes de actualizar o aguarela: dar um pulinho a Paris pelo fim-de-semana para desanuviar. Prometo novidades assim que voltar - que será em breve. Vou (infelizmente) num pé e venho noutro, que o tempo não dá para mais.

Wednesday, April 13, 2005

Monday, April 11, 2005

O (ex-)apaixonado da M.

- Não imaginas quem encontrei hoje à porta de casa. O Luís. Lembras-te dele?
- Claro. Ainda se baba de cada vez que te vê?
- Descobri que mora ao pé de mim.
- Humm… que coincidência.
- Quando lhe apontei a minha casa, abriu um sorriso e disse que conseguia vê-la da varanda dele.
- Ui…
- Eu sei, eu sei. Vou amanhã comprar cortinas.

Friday, April 08, 2005

Pequenas delícias (IV)

Homens com vozes que fazem eco.

Wednesday, April 06, 2005

Blog zapping (XIV)

«Eu estive sem voar um mês seguido e pensei que tinha morrido. Até que uma noite voltei a ser capaz.»

[Luís, Sonhos (1)]

Tuesday, April 05, 2005

Armados em cínicos

[Perante graffitti na parede que anuncia para quem quiser ler «Amo-te para sempre»]
- Coitado…
- Sabe lá ele o tempo que demora a eternidade.

Monday, April 04, 2005

Ter um blog permanentemente desactualizado dá nisto

- Estou a estranhar ainda não teres dado os parabéns à Bomba.
- Eu não me esqueci. O problema é que ainda não cheguei lá, percebes?

Saturday, April 02, 2005



O meu incipiente catolicismo está inevitavelmente ligado ao pontificado de João Paulo II. Dada a minha idade, foi o único Papa que conheci até agora e a única referência religiosa que me despertou simultaneamente uma admiração entusiástica e uma reprovação convicta. Independentemente de quem venha a ser o próximo Papa – mais progressista (espero) ou mais conservador – para mim, vai ser necessariamente o início de uma nova era. E os últimos meses da que conheci (apetece-me, hoje, salientar) foram marcados por um extraordinário exemplo de fé inabalável na relação com o sofrimento e a morte. É que, mesmo para os católicos, sofrimento e morte continuam a ser experiências demasiado dolorosas para se ignorar esta lição de vida.

Thursday, March 31, 2005

À prova de enganos

O meu problema não é topar quando eles “não estão a fim” – sou bastante perspicaz nesse campo – mas o contrário. As tapadas (como eu) agradecem apaixonados que cometem loucuras explícitas. Tudo o resto, além de prosaico, é demasiado equívoco.

Tuesday, March 29, 2005

A ervilha

- Tenho uma surpresa para te contar.
- Estás grávida. [Ando com a mania de responder isto sempre que alguma das minhas amigas inicia assim uma conversa.]
- Pois estou! [E, pela lei das probabilidades, alguma vez tinha que acertar.]
- A sério?
- Estava com atraso, bateu-me aquele feelling e fui tirar teimas.
- Que bom, meu amor. Fico mesmo contente! Estás de quanto tempo?
- Seis semanas. Já fui fazer a ecografia: é uma linda ervilha!
- E o J.?
- Ia morrendo quando lhe contei.
- Reagiu mal?
- Nem por isso. Primeiro ficou em estado de choque. Depois começou a telefonar aos amigos e foi comemorar. Quando voltou tarde para casa, bateu-lhe outra vez e não parava de repetir «um filho, um filho». Desde então vai variando entre a euforia e o peso da responsabilidade.

Monday, March 28, 2005

Porque desconfio que me lês às escondidas

Um beijo enorme, neste dia.

Saturday, March 26, 2005

Se não se pensa noutra coisa

E ainda assim, quando acontece, dizemos "nunca pensei sentir isto" é porque o «isto» real supera o «isto» idealizado. E, convenhamos, para a realidade superar a fantasia, só mesmo tratando-se «disso».

Friday, March 25, 2005

Blog zapping (XIII)

«O problema não é a vida sem ti. Já tive uma vida assim e eram dias que faziam todo o sentido. Difícil é uma vida depois de ti. O depois não acaba nunca.»

[Sofia, Constatação]

Thursday, March 24, 2005

Revisão dos trinta

- Já vais?
- Vim só mesmo tomar um cafezinho rápido. Tenho que voltar para o hospital.
- Hospital? Estás doente?
- Não, estou a fazer uns exames. De manhã fiz uma radiografia aos pulmões, um electrocardiograma e fui ao ortopedista por causa daquela queda há umas semanas; ainda me falta tirar sangue para as análises; amanhã vou ao oftalmologista…
- Tudo isto, assim por acaso, não terá nada a ver com o facto de teres acabado de fazer trinta anos, pois não, meu querido?
- Não me chateies.
- Olha, e isto dá-vos muitas vezes ou só uma por década?

Wednesday, March 23, 2005

Excelente

Este texto do Pedro Oliveira sobre o Iraque.

Tuesday, March 22, 2005

Primavera II

O Inverno do próximo ano visitou-me em sonhos. Dou por mim a enviar uma mensagem em código – «está um frio…»; vejo-a a ser recebida por um sorriso deslumbrante; e aguardo, ansiosa, pelo toque da campainha.

[Tenho a declarar que o Sr. Blogger virou moralista e resolveu censurar este post durante dois dias, a ver se eu ganhava juízo. Como se vê, não resultou.]

Monday, March 21, 2005

Primavera I

A chegada da Primavera vem acompanhada da conta do gás (vulgo, do aquecimento central) dos últimos meses.
Ao olhar para os valores, solto um berro indignado e concluo: é nisto que dá não ter companhia durante o Inverno.

Blog zapping (XII)

«As festas existem precisamente para as pessoas «verem» e serem «vistas». Eu iria a todas as festas possíveis e imaginárias se numa festa a gente só «visse». Mas a parte de «ser visto» faz de mim um homem caseiro.»

[Pedro Mexia, Ver e ser visto]

Sunday, March 20, 2005

Ser mulher é difícil – parte II

A pouco mais de uma hora para estar na igreja eis que surge um rasgão inesperado nos collants. (Belo timming…) Segue-se uma desesperada procura por um par igual em todas as gavetas do armário que se revela infrutífera. Opto por uma apressada muda de roupa e uma corridinha até ao supermercado. (Empresto sempre o carro nas piores alturas.) Collants sem biqueiras – daqueles para usar com sandálias, sem costuras – não existem. (Claro, era demasiado fácil.) De táxi até ao centro comercial mais próximo, a busca angustiada chega, finalmente, ao fim. Tanta agitação exige novamente um banho e um jeito no cabelo. Com bem mais de meia-hora de atraso em relação ao planeado, estou de volta à fase pré-rasgão. A maquilhagem é demorada – especialmente em cima das escoriações das pernas para ver se disfarça qualquer coisinha. Quase pronta, dou conta da ausência dos acessórios previamente escolhidos. (O stress não podia terminar já.) Depois de muito puxar pela cabeça e revirar a casa do avesso, lembro-me que ficaram numa bolsinha, no hall de entrada em casa dos pais, no almoço de ontem. Decido-me novamente pelo taxista amiguinho e desmarco a boleia combinada. (A L. mata-me se não a vejo a entrar na igreja por causa de percalços femininos.) Rápida paragem em casa dos pais – mas demorada o suficiente para ainda ouvir a minha Mãe a refilar o «és sempre a mesma coisa». (Nem respondo; quem está sempre a horas não entende que quem costuma chegar atrasado tem geralmente bons motivos.) Chego à igreja a queimar mas ainda a tempo. Abrando o passo, respiro fundo e ponho aquele ar de quem tinha tudo controlado.

Saturday, March 19, 2005

Ser mulher é difícil

Ora as calças creme a virar para o dourado não me servem (encolheram, só pode); as pretas devem estar perdidas algures que não as encontro; o tailleur aborrece-me de morte; a saia comprida azul não pode ser que o casamento é de manhã; a saia grená abaixo do joelho está démodé… enfim, resta-me optar pelo vestido curto que combinar melhor com as escoriações.

[Que inveja do fato e gravata e... já está.]

Friday, March 18, 2005

«Obscene wealth becomes you»



[oh... so that’s what’s missing]

Thursday, March 17, 2005

Blog zapping (XI)

«Vejo os olhos delas
À saída do filme.
Dizem: gostei,
Mas esperava mais.
Foi justamente por isso
Que Ramón não quis viver.
As expectativas delas
São sempre excessivas
Mesmo quando estamos
Tetraplégicos.»

[Luís, Mar Adentro]

Wednesday, March 16, 2005

Riscos de ser lida

(por certas amigas)
- Ai achas que “essa instituição” precisa de ser reformulada, que não há paciência para strippers, ligas e gajas histéricas? Óptimo: ficas tu encarregue de organizar a minha.

Tuesday, March 15, 2005

Blog zapping (X)

«Não estranhem a falta de assiduidade, mas estou apaixonado. Agora tudo o que tenho vai para mensagens escritas. Cada sms é um projecto para o dia todo. Começa a ser planeado, até escrito, horas antes do envio. Fica arrumado nos rascunhos do telefone à espera da hora certa. O instante é fundamental numa situação tão delicada. É preciso deixar a mensagem em repouso durante um certo tempo para ver se continua pertinente, para ter a certeza de que resiste. Nos casos mais arriscados aconselho até que se durma sobre o assunto para escrever com a força da noite, mas só decidir com a serenidade da manhã. Depois perde-se imenso tempo a medir o intervalo entre envios. É uma tarefa complexa, o que explica esta ausência.»

[Luís, Também não tenho fotografias novas da rua]

Monday, March 14, 2005

Feminista medianamente aguerrida

Se me puserem no meio do trânsito, em pleno jogo de futebol ou a ouvir o Fórum Mulher da TSF, as palavras que sairão da minha boca terão muito pouco de espírito corporativista. Mas – há que dizê-lo com frontalidade – a igualdade de oportunidades neste país não caminha em sentido ascendente mas aos zigue-zagues.

Sobre as mulheres e a política (portuguesas)

Desde quando é que voltou a ser politicamente correcto ser-se machista e defender a paridade coisa de feministas ultrapassadas?
Deve-me ter passado ao lado.

Sunday, March 13, 2005

Net threats

«Can you believe it - this is the third request to join Pedro's mobile friends network. Simply click the link below to confirm your relationship with Pedro. Don't you want to be invited by your friends?»

Está bem, está bem. Também não era preciso ameaçar a exclusão da vida social.

Saturday, March 12, 2005

Despedidas de solteira/o

Junta-se uma dose de “desespero” com outra de “histerismo” e mais uns quantos detalhes picantes e temos os ingredientes para a receita – com proporções variáveis e equilíbrios distintos – de uma “noite de gajas” um bocado deprimente. Em especial para quem tem oportunidade de assistir ao espectáculo de fora, claro.
As despedidas mais arrojadas – que se recusam, por uma questão de paridade, a ficar atrás das noites masculinas – dispenso bem. Considero um valente turn down aquela coisa do culturista com chapéu de marinheiro, super musculado e tatuado, a abanar o fio dental do superhomem à frente do meu nariz. As mais conservadoras, que se repugnam com um show mas não resistem ao que julgam ser um toque de atrevimento, recheando o jantar com vibradores gigantes, ligas, tanguinhas rendadas e preservativos comestíveis, também são embaraçosas.
Ainda assim, as despedidas organizadas por e para homens não são melhores. Além de pouco originais - não há despedida que se preze que não exija a contratação de uma menina ou a deslocação a um show de strip -, a eterna competição entre noivo e convidados para ver quem se baba mais parece-me particularmente decadente.
Esta “instituição” já merecia uma remodelação. Até lá, consumir mais vodkas que o habitual, dar um pezinho de dança e acabar a noite a extrair detalhes sórdidos da lua-de-mel parece-me a melhor opção.

Friday, March 11, 2005

Thursday, March 10, 2005

«Então, está melhor?»

No trabalho, na mercearia da esquina, no cabeleireiro. À primeira vista, a tónica parece ser a preocupação. À primeira vista. Porque, logo de seguida, começam os relatos. De outros acidentes, claro está. Viu aquele ontem na televisão? Dois mortos. Esse nem foi nada. E o da semana passada? Quatro. Eu vou respondendo por monossílabos, a tentar dar a entender que preferiria uma rápida mudança de tema. Mas serve de pouco. Ontem, o relato atingiu o seu auge. Depois de descrever o mais ínfimo detalhe, segue-se a brilhante conclusão: pois é… deste primeiro acidente, a prima do meu cunhado ainda se safou; no segundo, ficou-se. Mas não estou a agoirar. E ri-se. E eu estupefacta.
Esta malta não quer verdadeiramente saber como estou; quer é a deixa. O bom portuguesinho adora contar uma desgraça.

Tuesday, March 08, 2005

Lembrete (no telemóvel)

vanessa público dia mulher

Monday, March 07, 2005

Um ano

A encurtar a distância e a aconchegar o coração.
Parabéns, Muskinha, pela tuas – agora nossas – doces lembranças!

Pequenas delícias (III)

Este poema.

Saturday, March 05, 2005

Bombardeamento de telefonemas e sms

- Novidades fresquinhas da pátria: já se conhece a constituição do governo.
- Então?
- Adivinha quem é o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros.
- Vitorino?
- Nem sequer está no governo.
- Luís Amado? [Abro um parêntesis para confessar que, com ele, estaríamos (esteticamente) muito bem representados.]
- Não.
- Por favor não digas Lamego.
- Nope. Independente. Supostamente mais chegado à direita. E daí… talvez não.
- Não estás a querer dizer Freitas do Amaral, pois não?
- Oh yes.

Friday, March 04, 2005

LLN

O comboio chega finalmente ao seu destino. Entretida a pensar nos muitos lugares onde preferia estar, só saio quando me apercebo que fiquei sozinha na carruagem. Procuro um táxi à saída da estação, onde é costume aguardarem viajantes que chegam esperançados, desgostosos ou indiferentes (como eu), e não descubro nenhum. Esforço-me para desenferrujar o meu francês e averiguar a razão de tal ausência. A cidade universitária não está fechada ao trânsito automóvel mas, sabe-se lá porquê, táxis só chamando da cidade mais próxima e fica estupidamente caro. O autocarro também não é opção: não circula na zona do hotel. Mas não se preocupe, mademoiselle, é perto – 15 minutos a pé. O problema é que está a nevar e estou carregada. Pois… mas faz-se bem. Gorro e luvas ficaram onde fazem falta: em cima da minha cama, em casa. Agasalho-me o mais que posso e lanço-me, com mais indiferença que coragem, na intempérie. O “rápido” trajecto, com desvios, interrupções para perguntar a direcção, e pausas para descansar do peso da mala, transforma-se em 25 minutos. Com graus negativos, a nevar a sério e apenas o cachecol a tapar a cara.
À chegada ao hotel, gelada e encharcada, encontro alguns dos restantes participantes da reunião – alemães, holandeses e austríacos – acabados de fazer o mesmo percurso. Contudo, todos eles apreciam a distância, ignoram o tempo inóspito, não se revelam surpresos pela falta de transporte e congratulam-se pelo exercício físico extra.
Eu preciso de um banho a ferver, uma massagem e um belo jantar. E, ao som das músicas que escolhi para me acompanharem nesta viagem, dou por mim a pensar no conceito de «país civilizado».

Sabedoria aos pedaços (1)

«Só que os desesperos em causas de amor ao amor aportam, infalivelmente.»

[João Bénard da Costa, “Morrer face ao Outono”, Público, 4.03.2005]

Tuesday, March 01, 2005

Falsas ou verdadeiras: eis a questão



A dúvida angustiada do Bruno comove-me. A sério.
Acho enternecedora a sua tentativa de descobrir se as mamas da Salma Hayek são falsas ou verdadeiras através dos filmes em que entra ou dos vestidos que leva às suas aparições em passadeiras vermelhas. Tendo em conta os meios que estão hoje à disposição para tirar teimas, nomeadamente na internet, acho a sua limitação a estes pequenos momentos, por imposição própria, de uma candura deliciosa.
Mais curioso ainda é o tom com que o Bruno o faz: é patente o receio de levantar um “falso testemunho” contra a actriz, como se, de alguma forma, isso a subestimasse. É o nosso querido blogger em plena posição “contra-hegemónica” – para usar uma expressão do seu agrado – face à grande maioria dos homens que nada tem a objectar, muito pelo contrário, perante fenómenos tipo Sofia Aparício e Marisa Cruz.
Feita esta pequena apreciação, apetece-me, pelo enternecimento que me causou, dar uma pequena ajuda na sua preciosa tarefa.

Querido Bruno, há pelo menos três formas de fazer a distinção – de longe! – entre mamas verdadeiras e falsas. A saber: se são artificialmente redondinhas; se se sustêm sozinhas; e se se mexem pouco.
O arquitecto do decote, como lhe chamas, pode, de facto, ser enganador. Um bom decote deve apoiar bem o peito, para evitar as fugas e as mãos permanentemente a puxar aqui e ali – algo que é socialmente censurável. Daí que, em caso de decotes pronunciados e precisamente para que, desde o início até ao final da noite, esteja tudo no sítio, há a tendência para as… como hei-de dizer… aconchegar. Ora quanto mais se juntam, e quanto maior o decote, mais elas parecem redondas demais para ser verdadeiras – o que pode ser, afinal, uma avaliação incorrecta.
À prova de enganos é, sem dúvida, a observação de uma rapariga a dançar sem soutien. Very few girls can pull this off. Se conseguirem, ou são muito pequeninas ou há silicone por ali.
Quanto à tua musa da noite dos Óscares, nesta fotografia em cima, não me parece que houvesse mão de cirurgião. Pelo tipo de decote não parece usar soutien e o peito está descaído q.b. – isto é, descaído o suficiente para a equação tamanho-idade. Mas esta foto foi tirada em 1999 e não encontrei nenhuma mais recente e igualmente reveladora.
Mantendo-me no registo que escolheste, resta-me aconselhar-te a procurares uma fotografia da Salma Hayek de bikini. É o mais próximo da nudez total mas sem te retirar o gosto pelo mistério.

[Isto saiu um autêntico tratado sobre peitos e decotes. E eu que só queria contribuir para o esclarecimento do Bruno.]

Monday, February 28, 2005

It’s the Oscars’ night

E eu ainda não tive oportunidade de ver a maioria dos filmes.
Hoje vim só ver a bola e tirar ideias para vestidos. (Aproveito para fazer comentários fúteis e irrelevantes. Considerem-se avisados.)

Principal risco da noite: iminente rouquidão de Chris Rock. Aconselha-se moderação do timbre. Ou, dito por outras palavras: menos, menos.

O suplício dos momentos musicais: a Beyonce a cantar em francês (supostamente); a desafinação da canção do Shreck; a Beyonce de novo; o Banderas cheio de tiques; a Beyonce pela terceira vez.

Pormenores preciosos: o decote da Hilary Swank; os folhos da Charlize Theron; a tiara à princesa da Scarlett Johanson; a túnica à grávida de trigémeos da Gisele Bundchen.

Oportunidades perdidas: ver o Clive Owen subir a palco e ser filmado em grande plano por 30 segundos; ver o Johnny Depp de carinha lavada.

Tradição é tradição: a classe da Kate Winslet; as “meninas” da cerimónia 20 cm mais altas que os convidados (50 cm, no caso do Prince); o “In memoriam” (e as inúmeras caras de que já não nos lembrávamos que tinham morrido o ano passado); tanto os vitoriosos como os derrotados da noite (Swank, Eastwood / Bening, Scorcese, DiCaprio).

Notas: Para usar um vestido branco ou bege, estar bronzeada como a Gisele e a Penelope ou ter o tom de pele da Halle Berry; daqui a uns aninhos, optar pelo decote recto da Annette Bening com os ombros a descoberto – a mostrar que se pode ser sexy em qualquer idade.

That’s all, folks! Going to bed, now.

Razzies



Pode dizer-se que a vítima dos Razzies deste ano – a Halle Berry – oversmarted the critics. Apareceu na cerimónia para receber o prémio e fez um discurso à la Oscars que deixou toda a gente impressionada. Parece que, além de ser um espanto, a rapariga tem poder de encaixe.

Sunday, February 27, 2005



Hoje à noite, n’A dois.
Sobre a ausência. E a ilusão para fugir à desilusão.
A Charlotte Rampling está lindíssima neste filme.

Friday, February 25, 2005

Senti de novo o coração apertado, como se tivesse sido ontem. Felizmente já sem aquele desespero mas com imensas saudades. As que me assaltam com frequência. Embora, hoje, de uma forma especialmente avassaladora.

PS – A missa de um ano é um valente safanão emocional. Não sei se bom se mau. Sei que agora me apetece muito ir dormir.

Thursday, February 24, 2005

Podemos votar?

Por enquanto, CSI Las Vegas.
Porque me apego aos originais; porque nenhuma outra tem o Grissom e o Warrick.
O CSI Miami fica unanimemente em último lugar. Além da loura com a voz irritante, as personagens são moralistas, aspirando a uma densidade psicológica que definitivamente não têm. Os casos sob investigação também me parecem, por norma, mais básicos. Se bem que foi no CSI Miami que descobri que se pode assassinar um homem espalhando nicotina (em forma de insecticida) no preservativo. Ah… pois é.

(Calma. Não é que esteja a ponderar utilizar efectivamente esta preciosa informação. A não ser – claro – em jeito de punch line para desencorajar engates baratos. Já que só me calham desses.)

A favor dos twixters

[em detrimento dos “adultos” forçados]
A sociedade exige o que não deve.
Prefiro a errância sentimental genuína e flagrante. Tenho muito menos paciência para a obsessão dos homens pós-trinta que teimam que agora têm mesmo que assentar.

[Consegue ser ainda pior que o histerismo das mulheres em idade casadoira face à gravíssima ameaça de ficarem “solteironas”.]

Wednesday, February 23, 2005

Nem 16% é uma nega

«Dr. Love thinks a relationship might work out between XXXXXX and YYYYYY, but the chance is very small. A successful relationship is possible, but you both have to work on it. Do not sit back and think that it will all work out fine, because it might not be working out the way you wanted it to. Spend as much time with each other as possible. Again, the chance of this relationship working out is very small, so even when you do work hard on it, it still might not work out

Não é bem uma relação impossível…é problemática mas pode resultar…quem sabe…se calhar com mais dedicação acaba por dar certo…

Juntando-lhe o «quando estamos bem, estamos mesmo bem», parece a história da minha vida. Este Dr. Love ainda é mais optimista que eu.

Tuesday, February 22, 2005

«You sexy thing»

«- Não sei se é o homem certo - questionou, mais uma vez, a Vanessa.
- Dança - lembrou-se a Juju - é sempre importante um homem que dance. - Enjoam-me os pés de chumbo.
- Não é um intelectual - registou a Mariazinha - estou farta de apanhar secas de intelectuais.
- Eu também - disse mais alguém. (…)
- Mais uma razão a favor do Jerónimo. Não é um intelectual. Talvez não dê tantas secas.
- Mas falem do que verdadeiramente interessa!!! - gritou a Vanessa.
- Disso?
- Sim, daquilo que eu pus logo no início em cima da mesa da discussão.
Por pudor, resisti a escrever o que estava verdadeiramente em cima da mesa. A auscultação que a Vanessa queria fazer tinha a ver com a especificidade da sensualidade operária. Ela sabia que o conceito era "demodé", mas ultimamente achava-o irresistível. Em Jerónimo de Sousa, via um ícone dessa sensualidade e, além de se lhe ter metido na cabeça a hipótese de o seduzir, começou a apoiar o seu nome para secretário-geral do PCP.
- Pode ser um animal político.
Talvez por ser noite ou por falta de alternativas ou pela força do argumentário em prol da sensualidade operária, demos a ámen a Jerónimo de Sousa. Vanessa teve, enfim, a sua inclinação consensualizada.»

[Ana Sá Lopes, “Das inclinações consensualizadas”, Público, 21.11.2004]

Tanto que se escreveu sobre "a sucessão" e um PCP "divorciado da sociedade". Esqueçam lá o autoritarismo do partido e o exemplo democrático da Coreia do Norte. Já deviam saber que a Vanessa tem sempre razão.

Monday, February 21, 2005

Blog zapping (IX)

«A alegria alheia enche-lhe o depósito da amargura.»

[Tiago Cavaco, O mal-encarado]

Adenda: Entre parênteses rectos é somente o nome do autor-vírgula-nome do post, seus insidiosos.

A “reincarnação” segundo Calvino

«No dia em que os habitantes de Eutrópia se sentem atacados pelo cansaço, e já ninguém suporta o seu ofício, os parentes, a casa e a rua, as dívidas, a gente que deve cumprimentar ou que o cumprimenta, então todos os cidadãos decidem transferir-se para a cidade vizinha que está ali à espera, vazia e como nova, onde cada um tomará outro ofício, outra mulher, verá outra paisagem ao abrir a janela, passará as noites com outros passatempos amizades maledicências.»

[Calvino, Italo, 2003 [1972], Cidades Invisíveis. Lisboa: Editorial Teorema, p.66]

Sunday, February 20, 2005

Cantando vitória… em tom desafinado

«Amigos e camaradas… conseguimos!»
[Não me devem ter ouvido: não aplaudiram de imediato. Vou tentar outra vez com mais entoação.]
«Conseguimos!!!»

Este início de discurso, dirigido ao interior do aparelho partidário, em vez de a todos os portugueses, e em jeito de «Ladies and gentlemen, we’ve got him»*, foi escabroso.
Também os intervalos, de duas em duas frases, para aclamações quase forçadas, eram completamente dispensáveis; assim como o paleio de facilitismos com uma mera e muito ténue referência aos tempos difíceis que se avizinham. O discurso não foi propriamente brilhante e pareceu-me mal gerido, acabando por desperdiçar frases francamente boas que passaram praticamente despercebidas.
Ainda assim, eu também partilho da “fezada” do Rui (“fezada” é, sem dúvida, a palavra certa) de que Sócrates será um melhor primeiro-ministro do que líder partidário. E, com maioria absoluta, tem agora uma oportunidade única para mostrar o que vale – sem constrangimentos – e tem, especialmente, todas as condições para conseguir cativar gente de mérito para formar uma boa equipa de governo.
Acresce ainda que a esquerda, em geral, subiu dramaticamente no Parlamento (como dizem os ingleses), o que me agrada bastante.

* O him é o Saddam Hussein, caso não se lembrem.

É a «política», estúpida!

Depois de meses a desejar o derrube do governo; depois de duas semanas a criticar violentamente a sua campanha ambiciosa; depois de horas a torcer por uma derrota pesada nas urnas, comovi-me com o discurso do Paulo Portas. (Sinto necessidade de o confessar.)
Não sei se é menopausa precoce ou SPM, mas assim que entrou na sala com ar de pesar soltei o primeiro «coitado»; quando começou a falar com gravidade e desgostoso, fiquei verdadeiramente incomodada; e quando lhe vi o queixo a tremer, senti um nó na garganta.
Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas da imensa vontade que tinha de uma viragem à esquerda (tendo cumprido a minha parte) e de como considero merecido este resultado eleitoral. Quando surgiram as primeiras projecções soltei uma gargalhada e desejei que o desfecho fosse ainda mais penalizante. Acresce ainda que Paulo Portas tem culpa da sua queda política, pelas expectativas irrealistas que ele próprio criou, o que, à partida, torná-lo-ia menos capaz de cativar simpatia.
E no entanto, no momento em que falou aos portugueses, centrei-me apenas e tão-somente no sentimento de derrota pessoal e no quanto deve ser difícil, para qualquer pessoa, se preparar emocionalmente para tomar uma atitude pública deste género. Claro que tenho consciência que o discurso é particularmente bem feito, o que ajuda à compaixão. Mas a verdade é que não é fácil ver alguém capitular. Alguém – não o que representa ou defende. A maior parte das pessoas em política não faz esta distinção. Foi apenas por fazê-la que me impressionou; foi por fazê-la que digo, claramente, que a «política» não é para mim.

Saturday, February 19, 2005

Friday, February 18, 2005

«Atrás de mim virá quem bom de mim fará»

À medida que a campanha eleitoral chega ao fim, denoto o acentuar de um padrão muito típico.
Quando acabou o cavaquismo e a sua política do betão, alvíssaras para o guterrismo e a sua política socialmente consciente. Quando acabou o guterrismo e a sua política de laxismo, alvíssaras para o barrosismo e a sua política de rigor. E quando está prestes a acabar o barrosismo e a sua política de contenção insensível e falhada, seguida do santanismo e a sua política incompetente e desastrada, já se dá alvíssaras a um futuro novo governo de Sócrates.
Tudo isto recordando à vez e com saudosismo Cavaco e Guterres. Tudo isto sabendo, de antemão, que também o governo de Sócrates atingirá inevitavelmente o patamar da nostalgia.
Tenho para mim que o problema disto tudo é a nossa gravíssima falta de memória.

Thursday, February 17, 2005

Pouco selectivo?

And what else is new? Esse é o problema de muita gente que eu cá sei.

Beijocas eleitorais

Em plena campanha de rua por Braga, diz o Marcelo Rebelo de Sousa que, do que se lembra, a parte boa de ser líder político era «poder beijar raparigas bonitas e jovens». Ora eu, que tenho um autógrafo dele (numa feira do livro, quando era jovem inconsciente) a dizer «Para a bonita X», sinto-me traída.
Depois deste duro golpe, a única salvação possível para o meu ego é catalogá-lo de pouco selectivo.

Wednesday, February 16, 2005

And the winner is…

O Louçã, dentro dos seus objectivos, foi o que melhor se portou neste debate. Embora tenha dúvidas sobre a cartada que ele tinha na manga (vários economistas defenderam a necessidade de facilitar as reorganizações no interior das empresas, tendo em conta o caos burocrático por que teriam que passar e tendo em vista a sua maior competitividade), a sua posição é perfeitamente coerente com o que tem defendido até agora e demonstra inteligência e trabalho de casa.
Contudo, o Paulo Portas tem razão quando o acusa de ser sobranceiro (ainda que não lhe fizesse mal nenhum olhar para o próprio umbigo). Ultimamente, o Louçã tem-me feito lembrar aquelas pessoas que, em discussões em que a outra parte está aos berros, respondem com aquele tom de voz pausado e quase inaudível: «Por que estás a gritar? Tens alguma necessidade de falares assim?». E julgam que têm mais razão por isso. A forma é sem dúvida melhor, o conteúdo não necessariamente.

Pode vencer (em absoluto) mas não convence

As perguntas mais difíceis foram dirigidas, sem dúvida, ao líder do PS. E bem: será ele o mais provável vencedor das próximas eleições e há, por isso, que avaliar acima de tudo o seu projecto e a sua capacidade e competência para o levar a cabo.
Penoso foi vê-lo a esquivar-se a todas as ditas perguntas – sacrifícios para os portugueses, encerramento de cursos universitários, aumento da idade da reforma. Não sei se esperando, porventura, que ninguém se apercebesse, se embarcando na triste ideia que os portugueses preferem ouvir promessas agradáveis em campanhas eleitorais.

PS – Aquela esperteza saloia de se colar à cartada do Louçã, da qual não tinha conhecimento, para pedir contas ao Santana Lopes, foi um verdadeiro tiro no pé.

A cinco

Perdão, a quatro.
Perdão, a três.
Perdão, a dois.
A um?

Tuesday, February 15, 2005

Não há amor como o primeiro, carago



E é sempre uma agradável surpresa ver um “banana” ganhar coragem e deixar de o ser.

[Se calhar devia ter avisado que ia sair daqui um post muito cor-de-rosa. O que vale é que tenho sempre a desculpa da nova medicação.]

Tempos de antena

O Bloco de Esquerda só poderá aspirar a ser governo quando passar a fazer tempos de antena sérios e, de preferência, muito, muito enfadonhos. Faz parte das regras do jogo.

Choque medicamentoso

Hoje, a acamada saiu à rua (onde é que já ouvi isto?...) para uma consulta com o ortopedista. Vamos trocar a medicação, diz ele, com ar de quem se entretém, nos tempos livres, a magicar combinações especialmente bombásticas. A ver

[Adenda: Foi mesmo choque. Não foi promessa nem objectivo; e ficou longe de mero beliscão.]

O truque

Para acordar bem-disposta é começar o dia a ouvir boa música. O problema é a vontade louca de dançar. Ai como eu me vou vingar…

Monday, February 14, 2005

Dia dos namorados

Este é, sem dúvida, o dia mais foleiro do ano. Demasiados corações, restaurantes a abarrotar e flores acima do preço, para o meu gosto.
Dito isto, sou completamente a favor de datas. Aniversários, anos de casamento, dia em que se começou a namorar, dia da Mãe, do Pai e da criança… Quaisquer que sejam, desde que nos façam parar um pouco, quebrar a rotina, e saborear algo de especial. Todos os pretextos justificam plenamente arranjar um tempinho para um fim-de-semana a dois, um jantar de miúdas, um almoço de família, uma matiné com a sobrinha, uma noite com amigos.
É uma questão de investimento emocional. E não me parece que haja outro mais rentável.

[É por causa disso que este dia – sempre comemorado duas ou três semanas depois por pura embirração – pode ser capaz de enternecer.]


A esta hora, estaria eu a passear-me pelas Ramblas.

Cauchemar *

Bem me dizia a minha Mãe desde miúda que dormir de barriga para cima dá pesadelos.
Esta noite, que se lixem as escoriações. Aguentar a dor é um acto de coragem; propiciar pesadelos é um acto de estupidez.

* E o contra-senso que é esta palavra ser das minhas favoritas em francês.

Sunday, February 13, 2005

Desfasamento emocional

Sobre os sucessivos “atrasos temporais” deste blog.
Poderia afirmar peremptoriamente que o Aguarela é meu e escrevo com as datas que me apetecer (assim em jeito de «it’s my party and I cry if I want to»). Mas – apesar do meu quê de infantilidade que até bateria certo – estou longe de ser assim tão segura e auto-confiante.
Excluindo alturas de maior sufoco profissional, a verdade é que o desfasamento temporal me permite olhar para determinados acontecimentos com outros olhos. Certos assuntos tornam-se mais facilmente descritíveis passado o “período de nojo”, como acontece com o acidente de carro. Consigo, inclusivamente, dar-lhe um toque humorístico num post, apesar de ter sido uma experiência particularmente assustadora.
Por outro lado, se há alturas em que apetece escrever quando o estado de alma é especialmente penoso, também pode ser bem pensado optar, precisamente, por não explorar angústias e escrever menos nos dias que custam mais a passar. Isto é, deixar as tristezas para dias mais felizes (que los hay los hay e acabam por não ser tão poucos quanto isso).
No fundo, no fundo, ter um blog é terapêutico. Deve ser por isso que é tão viciante.

Saturday, February 12, 2005

Sentimentos de superioridade quase, quase legítimos

[Em conversa com um amigo sueco]
- I’ve been better. Just had a car accident.
- Oh, those southern European countries…

Benditos

Os ex-namorados que nos trazem rosas e chocolates quando estamos de cama.

[Ai a desgraça partilhada…]

Friday, February 11, 2005

Rescaldo de uma invalidez temporária (V)

E não é que, para substituir uma companhia blogosférica que tanto me apraz, e da qual momentaneamente não posso usufruir, o encantador Francisco José Viegas me brinda com uma brilhante entrevista ao José Gil, no seu Livro Aberto, para alegrar uma noite que se antevia espinhosa.
Salvou – e com louvor – este exasperante dia de televisão a quatro canais.

Thursday, February 10, 2005

Rescaldo de uma invalidez temporária (IV)

Diz-nos Calvino que as cidades – no que eu leio homens e mulheres – se dividem em dois tipos: «as que continuam através dos anos e das mutações a dar forma aos seus desejos e aquelas em que os desejos ou conseguem aniquilar a cidade ou são eles aniquilados.»

[Calvino, Italo, 2003 [1972], Cidades Invisíveis. Lisboa: Editorial Teorema, pp. 37-38]

Rescaldo de uma invalidez temporária (III)

Eu juro que me estou a esforçar. Insistentemente. Mas não consigo. Bate logo uma sonolência. A culpa não é tua, claro. Incentivos não me faltam: distrais-me, és boa companhia, intelectualmente estimulante. Eu até tenho vontade a toda a hora. Basta olhar para ti… Mas, assim que começo, não me consigo concentrar.
Enfim, tentamos mais uma vez?
A ver se é desta que consigo ler mais de duas páginas.

Visitas generosas (II)

- E o anúncio da Nikewomen?
- 20!
- 20? Também não é para tanto. Dou-lhe um 18.
- Não, não: 20! Para quem não se consegue mexer, hás-de convir que ela impressiona.

Rescaldo de uma invalidez temporária (II)

Se o RAP sonhasse o quanto é citado no Fórum TSF…

[Fórum TSF? Este é, manifestamente, o primeiro sinal da demência.]

Rescaldo de uma invalidez temporária (I)

A Praça da Agonia, perdão, Alegria dá cabo de mim.

Wednesday, February 09, 2005

Visitas generosas (I)

- Estás um bocado dopada…
- E a implorar por mais.

A hipocrisia sai cara

Nunca ponho o cinto atrás, confesso. A não ser quando vou com a minha sobrinha, para dar o exemplo. O que, vendo bem as coisas, ainda é pior do que o «faz o que eu digo e não o que eu faço».

I didn’t even know what hit me

Estrondo, embate violento e cheiro desagradável a qualquer coisa tipo… foguetes (?). Seguido de duplo desmaio, que a donzela prefere se abstrair da confusão. Primeira preocupação ao acordar: amigos. Todos bem. Alívio. Começa a chegar o aparato todo: INEM, ambulâncias, paramédicos. Inaugura-se a sessão de perguntas. Sim, sinto o corpo todo; sei dizer o meu nome; lembro-me que ia atrás; pois, sem cinto; acho que fui parar ao chão; sim, entre o banco de trás e o da frente; eu sei, eu sei, muita sorte dentro do azar.
Imobilização e transporte para a ambulância especialmente intimidantes. Umas lágrimas para desanuviar. O paramédico é um amor. Fique descansada: é só uma questão de precaução. Aparece o médico do INEM. Onde lhe dói? Pernas, bacia e costas. Deixe ver. (Merda. Não tenho a depilação feita. Estava a guardar-me para a viagem para a semana a Barcelona.) Tem umas escoriações mas não parece ter nada partido. E aproveita para mostrar ao paramédico. (Dupla vergonha e não nos ficaremos certamente por aqui.)
Irmã não tardou. Umas festinhas e palavras doces vêm mesmo a calhar.
Chegada ao hospital. Recebida por uma enfermeira bruta como as casas. Muitas dores. Tirar as calças é um suplício. E a desinfectar as feridas ela mostra a sua mais profunda sensibilidade. (Só não a descomponho porque a presença da minha irmã é dissuasora e não quero que lhe digam amanhã, quando vier trabalhar, que sou um bocado pró histérica.) Entretanto começam a chegar os amigos que foram informados. Ela faz questão de lhes dizer que não é nada e mostrar-lhe as escoriações das pernas. (Juro que grito se mais alguém me levanta o lençol.)
Um monte de radiografias. Continuo a implorar por um comprimido. Ainda não: podem mascarar algum problema. Então qualquer coisa para eu dormir. Não: precisamos de ver se não se sente tonta ou sonolenta por causa do acidente. Saem os resultados. Nada partido. Ainda bem mas então como é possível não me conseguir mexer? É do traumatismo do acidente. O embate foi forte. Bem sei. (Sinto-me como aqueles bonecos nos testes de acidente.)
A enfermeira, minha amiguinha, volta para me ver, a mastigar pastilha de boca aberta e com ar de desprezo. Então, não tinha nada, pois não? Não, mas continuo cheia de dores. Ri-se. Hoje não é nada; amanhã é que vai ver o que lhe vai doer. (E a vontade que tenho de lhe puxar os cabelos.)
O meu reino por um pain-killer. E eis que chega, finalmente, mas em forma de… injecção. E já adivinham onde.

Monday, February 07, 2005

Espelho do Brasil

A campanha contra a obesidade lado a lado com a campanha contra a fome.

Sunday, February 06, 2005

Sobre a suposta recuperação do PSD

O Pedro Santana Lopes julga-se francamente melhor do que é. O curioso é que é precisamente essa auto-confiança que lhe permite ir mais longe do que alguma vez iria, caso tivesse efectivamente noção da realidade.

Something to wait for…

Saturday, February 05, 2005


The Sweeper, Paula Rego
Pastel sobre papel, 2002

[Até chegar a hora de varreres os restos para debaixo do tapete.]

Friday, February 04, 2005

I keep on running back to you

Em certas circunstâncias, é inequívoco que a distância traz tranquilidade e a proximidade angústia. Logo, a opção não deveria ser propriamente difícil. A verdade é que, perante a serenidade e o desassossego, há quem prefira, irreflectidamente, trocar a primeira pelo segundo.
Talvez porque, emocionalmente, o refúgio não nos proteja de tudo. A entrega pode vir a doer no coração mas entretanto fá-lo renascer.

Thursday, February 03, 2005

Blog zapping (VIII)

«Sim é deslumbrante. O amor é sempre deslumbrante. Uma mentira magnífica, como deus, a paz, a felicidade.»

[Luís, 2046]

Não me deixe só

(Vanessa da Mata)

Não me deixe só
Eu tenho medo do escuro
Eu tenho medo do inseguro
Dos fantasmas da minha voz
Não me deixe só
Eu tenho medo do escuro
Eu tenho medo do inseguro
Dos fantasmas da minha voz
Não me deixe só
Tenho desejos maiores
Eu quero beijos intermináveis
Até que os lábios mudem de cor
Não me deixe só
Eu tenho medo do escuro
Eu tenho medo do inseguro
Dos fantasmas da minha voz
Não me deixe só
Que o meu destino é raro
Eu não preciso que seja caro
Quero gosto sincero de amor
Fique mais
Que eu gostei de ter você
Não vou mais querer ninguém
Agora que sei quem me faz bem
Não me deixe só
Que eu saio na capoeira
Sou perigosa, sou macumbeira
Eu sou de paz, eu sou do bem
Mas não me deixe só
Eu tenho medo do escuro
Eu tenho medo do inseguro
Dos fantasmas da minha voz
Não me deixe só

Wednesday, February 02, 2005

Dêem-me o devido desconto

«Imagination is a terrible thing to waste

Tuesday, February 01, 2005

Momento Ally McBeal

Ontem, enquanto falavas, dei-te um beijo. Longo, bem demorado. Daqueles que parecem durar uma eternidade mas que, ainda assim, sabem a pouco quando terminam. Dissertavas sobre qualquer coisa que me pareceu a milhas de distância, já nem me lembro o quê. Não fechei os meus olhos para poder rever bem os teus, como sempre fizemos.
E hoje não me sai da cabeça – o beijo que te dei sem te dar.

[Sim, querida I., eu também me apanho às vezes a cantar «can’t get enough of your love, baby»]

Monday, January 31, 2005

Gata borralheira – versão canina

Passeio à noite com o cão e com o ex-namorado (que tem direitos de paternidade). A meio do caminho, aproxima-se sorrateiramente uma cadela. Insinua-se, desperta a atenção e, como se apercebe que causou impacto, resolve acompanhar-nos até ao jardim. Em pleno cenário idílico perde o pudor, inaugura as brincadeiras atrevidas, foge e deixa-se apanhar, troca umas carícias arrojadas… E lá estavam os dois, bastante entretidos, enquanto nós fingíamos que conversávamos sobre banalidades sem quaisquer constrangimentos.
O cão está pelo beicinho, nota-se bem. (Dos donos é melhor não falar.) Mas aí por volta da meia-noite – qualquer semelhança é coincidência –, ela desata a correr, a correr, a correr… até perder de vista e não voltou mais. Ficámos os três com aquela cara de parvos a pensar no que é que lhe teria dado. Comentário do meu ex para o cão, em jeito de consolo: «Deixa, vá-se lá entender as mulheres.»

Sunday, January 30, 2005

Dúvida genuína



A Sharapova é bastante engraçada – bem mais fina que a Kournikova, if you ask me – sabe jogar ténis (e tem dezassete aninhos, o que, por estes lados, parece ter impacto).
Mas o que eu queria mesmo saber é se os homens que ficam colados ao ecrã para ver os seus jogos têm o som da televisão no off.
(Embora já adivinhe que o mais provável seja responderem-me que os berrinhos até são sexys.)

Blog zapping (VII)

«…o Tiago merecia ser largado no triângulo Sunita mascarado de Capitão América.»

[maradona, Respostas]

Saturday, January 29, 2005

Deslizando graciosamente



Tatiana Navka e Roman Kostomarov da Rússia: medalha de ouro no campeonato europeu.

[São tão dramáticas as poses da patinagem artística. Adoro.]

Thursday, January 27, 2005

Sinais de fogo

Lembro-me bem de quem mo deu; já soube de cor a dedicatória; li-o numa cama que já não existe e que nunca chegou a ser minha.

Wednesday, January 26, 2005

Barraca da semana

[ou bomba de ouro da lerdice]
Pensar que os novos membros do Barnabé eram heterónimos do Rui Tavares.

Tuesday, January 25, 2005

Ainda sobre o assunto “vida privada das figuras públicas”

Vale a pena ler o excelente post do Bruno:

«Por isso me repugnam os boatos acerca da homossexualidade de figuras públicas. Aceito que muitos desses boatos poderão denunciar a hipocrisia de uns quantos actores sociais. Mas a esmagadora maioria mais não faz do que exigir práticas visíveis de heteronormatividade, nuns casos, e parodiar a falta de coragem de quem não se assume, noutros. Nestas situações, além da crueldade que pode estar presente, dá-se corpo a uma outra ideia que eu recuso, acompanhando as lições de Foucault: a ideia que a sexualidade tem que ser parte determinante da identidade pessoal ou pública de uma pessoa.
(…)
É óbvio que para a homofobia ser extirpada os actos de coragem individual de figuras públicas são fundamentais. Mas nada que se faça a saca-rolhas ou pela difusão de boatos que falem daquilo que não nos diz respeito.»

Sobre o dito debate, muito brevemente

Parece-me óbvio que o Francisco Louçã teve uma saída extremamente infeliz: ter um filho não acrescenta nada às posições sobre este tema, não é argumento de autoridade e quem nunca teve um não está excluído de ter uma opinião válida sobre o assunto.
A suposta alusão à vida privada de Paulo Portas – no sentido de «não tem filhos nem nunca terá» – é uma extrapolação das palavras proferidas pelo líder do BE. O que se disse depois, em sua defesa, é que mais valia ter ficado por dizer.

Monday, January 24, 2005

De insulto em insulto…

Consigo perceber o que há de apelativo neste argumento e principalmente de útil – no sentido de se procurar uma forma de relacionamento em sociedades multiculturais – mas não me parece que se deva apenas analisar este argumento no abstracto, onde ele parece bastante razoável. No concreto, pode significar apresentar os imigrantes – «que não aderem à modernidade» – como «factores de risco» para a liberdade de expressão nas sociedades ocidentais. Isto é, em determinados contextos mais explosivos, pode ser demasiado fácil – e, consequentemente, perigoso – que um Timothy Garton Ash se transforme num Pym Fortuyn.

Sunday, January 23, 2005

Pequenas delícias


Volta para mim/Come to Me, Paula Rego
Litografia, 2002

Um excelente pretexto para passar o fim-de-semana no Porto: a exposição da Paula Rego em Serralves é óptima. Fui mesmo à última hora (apesar de andar a dizer que ia desde Outubro); mas fui.

[Ah, e voltei com imensa vontade de colmatar uma daquelas minhas falhas e ler finalmente a Jane Eyre.]

Saturday, January 22, 2005

Blog zapping (VI)

«O domingo liberal teria certamente sido precedido por uma madrugada de sexta-feira libertária e por um sábado situacionista, e a ele teria forçosamente que se suceder uma segunda-feira trabalhista, uma terça-feira revisionista, uma quarta-feira reformista, mais a quinta-feira progressista e a sexta-feira reviralhista.»

[Rui Tavares, Um Domingo Liberal para você, ó excelência!]

Ainda não vi o filme but sounds familiar

«Desigual nos seus vários “episódios”, 5x2 é um excelente filme sobre o fim e o começo do amor. Começa com o fim, como se tivesse sido sempre assim. Continua no meio, como se tivesse sempre a acabar. E acaba no princípio, quando outro fim se adivinha e o começo promete ser perfeito

Friday, January 21, 2005

Verdades irrefutáveis

O meu truque, quando me dá para ter laivos de «anti-americanismo primário», é pensar no papel “moral” da França. Em África, se quiser engolir em seco.

Thursday, January 20, 2005

Ao reler os posts anteriores

Chego à conclusão que provavelmente deveria mudar o nome deste blog: de aguarela temperamental para aguarela esquizofrénica.

[Ou isso ou conformar-me com certas consequências de ser católica.]

Wednesday, January 19, 2005

(já me redimi um niquinho)

Leio que o Bruno resolveu “mexer” no seu template e vou a correr ver se me expurgou dos “outros desejos”.

A isto chama-se insegurança ou peso na consciência. Pelo sim, pelo não, segue dentro de pouco tempo uma daquelas minhas actualizações desde dia 9 de Janeiro. A culpa é do trabalho que me tem deixado de rastos.

Tuesday, January 18, 2005

É um facto (porventura merecido)

A minha consciência não tem só voz alta; a maior parte das vezes, fala comigo aos berros.

Monday, January 17, 2005

Problemas com «a consciência»

Já quando vivia em Nova Iorque, era perseguida pela voz da minha Mãe de cada vez que ia ao multibanco.
Entrava no compartimento, estreito e desagradável, e tinha uma sensação estranha de que não estava sozinha; introduzia o cartão; inseria o código; pedia para levantar dinheiro; e, quando ia para carregar num certo botão com demasiados zeros, começava a ouvir «Estás louca? O que é que tu pensas que estás a fazer???» [e a voz da minha Mãe não se limita ao ouvido direito ou ao esquerdo. Naaaa… a voz da minha Mãe surge de cima e faz eco – assim, tipo Deus, estão a ver?].
Resultado: encolhia-me toda, quase pedia desculpas ao meu vigilante invisível e mudava logo de ideias para um valor… digamos que… mais comedido.
Claro que depois ia o resto do caminho a calcular de quantas sobremesas iria abdicar para poder manter o belo hábito – caro comócaraças – de acabar a noite no SOB’s todos os fins-de-semana.

Sunday, January 16, 2005

Levantar cedo ao sábado é uma violência

Achei por bem pedir para assistir a umas aulas que me interessam ao sábado de manhã. Não sei o que me passou pela cabeça. É um verdadeiro suplício acordar àquela hora perfeitamente indecente da madrugada ao fim-de-semana. E por isso, assim que toca o despertador [filho da… ], lá começa a acesa discussão entre o diabinho no meu ouvido direito e o anjinho no esquerdo.

Anjinho: Por algum acaso estás a fingir que não ouviste o despertador a tocar?
Diabinho: Aguarelinha, minha querida, não foi nada o despertador. Continua na ronha que se está tão bem.
Anjinho: Tu não ouves? Não estás a pensar ficar na cama e não ires às aulas, pois não?
Diabinho: Humm… deixa-te estar, meu amor, a cama está tão boa. Nem és obrigada a ir.
Anjinho: Não és obrigada mas pediste por especial favor para assistires. Se tiveres vergonha na cara, vais.
Diabinho: Oh, por favor… Inventas uma desculpa ao Prof. e pedes os apontamentos das aulas a alguém. Não é propriamente grave, pois não, meu doce?
Anjinho: Achas mesmo que o Prof. não vai ver “preguiça” escrito na tua testa?
Diabinho: Aguarelinha, ninguém morre por faltar de vez em quando. E ontem chegaste tão tarde a casa, lembras-te? Ainda foste tomar café a seguir ao Coliseu e ainda tiveste que fazer a viagem de volta. Dormiste tão pouco e tens andado tão cansada, meu chuchu.
Anjinho: Precisamente. Não vais ficar a dormir quando podias ter ficado no Porto e voltaste de propósito, pois não? E deixa-te de desculpas esfarrapadas que vieste o caminho todo a dormir que nem uma pedra.
Diabinho: Por acaso nem dormiste nada. O que está feito, está feito. Pensa só no prazer que te vai dar ficares na caminha até às três da tarde. Além de tudo é para o teu bem, meu pitéuzinho: estás desesperadamente a precisar de descansar.
Anjinho: Aguarela Maria, deixa-te de fitas e levanta-me esse rabo da cama imediatamente!

E com tudo isto, para além de acabar por ir sempre, ainda stresso imenso porque, como é óbvio, entre o despertador tocar e o fim da elaborada discussão, já se passou grande parte do tempo de que disponho para me arranjar. E, como boa gaja, estamos a falar de hora e meia.

PS – Diabinho do lado direito e anjinho do lado esquerdo? Diabinho doce como o mel, anjinho amargo e mal-disposto? Humm… interessante.

Saturday, January 15, 2005

À procura de uma explicação

- Uma bola de ténis gigante? Uma bola de ténis gigante para acabar um sketch?
- Como é que eles se lembram disto?
- O estranho é que nem parecem beber muito.

Geniais



Fui de propósito ver estes rapazes ao coliseu do Porto, ontem.
Vale a pena comentar?

Adenda: Se calhar só um comentário pequenino. (Não, não é para dizer que o ZDQ fica um charme de vestido.) É para me juntar aos amáveis e generosos avisos que o RAP recebeu. Custou-me ver o Coliseu tão vazio e deprimente, o público tão entediado, as constantes vaias, as pessoas a abandonarem a sala e a reclamarem o dinheiro do bilhete… Quando, ainda por cima, se começar a difundir que o RAP decidiu «privatizar a sua imagem» como bem lhe apeteceu e resolveu obedecer a censuráveis impulsos de apoiar partidos políticos – quebrando as regras infrangíveis do «bom humorista» – será o fim, será decerto o fim.

Friday, January 14, 2005

A reincarnação vista pelo “ocidente”

«Se eu acreditasse na reincarnação, suicidava-me quase todos os dias.»

Este post do Ivan d’A Praia chocou-me um bocado. Mas não quero entrar por aí. Não tendo noção do contexto e, principalmente, não tendo nada a ver com isso, não faz sentido nenhum estar a comentá-lo.
Queria só chamar a atenção para a divergência de interpretações que este post põe a nu. Para os hindus ou budistas, a libertação ocorrerá precisamente com o final do ciclo de reincarnações. Estas são encaradas como um castigo; são a punição – mais ou menos severa (que depois se traduz no sistema de castas) – pela incapacidade de se alcançar na vida anterior a realidade última, a plenitude.
Ao ser introduzido no “ocidente” *, este conceito sofreu uma alteração, paganizou-se e passou progressivamente a significar uma nova oportunidade de vida. Ao contrário das religiões orientais, tem uma conotação francamente positiva – simboliza uma espécie de possibilidade de redenção, de voltar atrás e corrigir o que está mal e, porventura, o que se fez de mal.
Poder-se-á dizer que, mesmo não sendo encarado como um castigo mas sim como oportunidade, o objectivo será provavelmente o mesmo: acabar com as reincarnações assim que se alcance a perfeição. O enfoque é, porém, totalmente distinto: no primeiro caso, a perfeição atinge-se com a união ao transcendente; no segundo, o desejo é que a perfeição se atinja na vida terrena. E aqui reside toda a diferença.

* Pareço o Vasco Pulido Valente e a sua “Europa” entre aspas.

Blog zapping (V)

«Há pessoas que são simpáticas demais para poderem ser credíveis. O eterno sofá onde sentam Deus e o diabo. O templo pode estar a abarrotar de vendilhões que ninguém há-de expulsá-los. O tilintar das moedas já entrou no ritmo dos cânticos.
Bom é que ao conhecer alguém lhe avistemos as boas maneiras e o cabo do chicote. Ficam mais bem feitas as apresentações.»

[Tiago Cavaco, Há pessoas]

Blog zapping (IV)

«Raramente percebemos que a porta está mal fechada. O som da porta mal fechada não é evidente. Só muito mais tarde percebemos esse ruído impertinente. A porta ficou mal fechada. Mas agora queres fechar bem a porta ou abrir de novo a porta?»

[Pedro Mexia, A porta fechada]

Thursday, January 13, 2005

Conversas da treta

- Eu sei que tu és ingénua, acreditas que o Natal é quando o homem quiser, toda a gente é infinitamente boa, o amor pode ser para sempre…
- Esta conversa vai ter um fim?
- Vai. Quando é que estás a pensar desfazer a decoração de Natal?

Wednesday, January 12, 2005

Blog zapping (III)

«É possível a dois amantes nunca dançar um com o outro ou não gostar de o fazer ou nunca correr bem quando o tentam e serem bons na cama. É: mas e enquanto casal?»

[Rui Branco, A dançar é que a gente se entende]

Blog zapping (II)

«Ninguém substitui ninguém: há apenas uma serena continuidade, sem drama e sem tumulto. Como tem de ser. Rituais insuportáveis tornam-se obrigações suportáveis, amigáveis, quase desejáveis. Quase. E quando a noite chega, a mesa é cheia: de presentes, do presente. E do passado: um passado de silêncio que se intromete nas conversas. Ninguém diz nada. O silêncio diz tudo. E depois regressam as conversas.
Leio prosa publicada. Ninguém parece gostar do Natal. Eu gosto. Comecei tarde, eu sei. Mas também sei que, numa vida tão breve e tão precária que apenas temos por empréstimo, começar tarde é nada quando o importante é começar bem.»

[João Pereira Coutinho, Natal: começar bem]

Tuesday, January 11, 2005

Já se esteve mais longe

O Sudão começou bem o ano novo. O acordo final entre o governo e o Movimento de Libertação Popular do Sudão, que põe fim a uma guerra intermitente desde a independência, foi finalmente assinado.
O número de processos de paz já iniciados pesa na história deste país mas nunca se tinha chegado tão longe. E como o Sudão era, até agora, palco de duas guerras civis distintas embora interligadas entre si, resta esperar que esta «janela de oportunidade» dê lugar a mais uma, no Darfur. Sem surpresas, o conteúdo das negociações não deverá ser muito diferente: o desarmamento, a questão da autonomia e a abertura da oligarquia de Cartum à partilha de poder e das riquezas do território aos outros grupos nacionais têm sido, desde sempre, as cedências essenciais para uma paz duradoura.

Monday, January 10, 2005

Blog zapping (I)

When we were first dating, I told him
"You were talking in your sleep last night
and I listened, just to make sure you didn't
call out anyone else's name." My future-husband said
that he couldn't be held responsible for his subconscious,
which worried me, which made me think his dreams
were full of blond vixens in rabbit-fur bikinis.
but he said no, he dreamt mostly about boulders
and the ocean and volcanoes, dangerous weather
he witnessed but could do nothing to stop.
And I said, "I dream only of you,"
which was romantic and silly and untrue.


Denise Duhamel, Sex with a Famous Poet (via Abrupto)

[The Consequences of Wife-Swapping With a Giant também mereceu a minha atenção. E um sorriso, confesso.]

Do que eu mais gosto na blogosfera (II)

Estar rodeada de gente brilhante. Tão de perto. À distância de um blog zapping.

Sunday, January 09, 2005


No Sri Lanka, os casais de namorados sentam-se nos bancos de jardim ou passeiam-se à beira-mar sempre protegidos por um guarda-sol - para esconder os beijos, trocados a medo e com pudor, dos olhares de quem não tem lugar na fotografia.

Sentimentos contraditórios



Duas semanas depois da catástrofe no sudeste asiático recebo a notícia de que o hotel onde fiquei por uma semana, na costa leste do Sri Lanka, desapareceu por completo, assim como o amável casal que nos acolheu.
Passei um mês no Sri Lanka, a trabalho, assim que foi decretado o cessar-fogo. Percorri várias das zonas que mais sofreram com o recente desastre natural e onde, na altura, ainda se estranhava ver estrangeiros, depois de anos infindáveis de guerra civil – em especial no nordeste do país, o bastião do LTTE.
Chocada e revoltada já tinha ficado, por ver o trabalho de décadas desfeito num abrir e fechar de olhos. Hoje, inexplicavelmente, foi diferente. Embora desgostosa, ao folhear os meus álbuns, senti-me privilegiada. Acho que por poder recordar algo que a grande maioria das pessoas, que vê as imagens que nos entram casa a dentro há duas semanas, não conheceu: fotografias que, como diz o Francisco, têm muito pouco a ver com a desgraça visível actualmente; caras que, apesar da extrema pobreza, transmitem uma esperança no futuro do país invejável. Uma esperança que virá de novo ao de cima, quero crer.

PS – Os dois locais mais atingidos pelo tsunami foram a província de Aceh e a ilha do Sri Lanka. Ambos sofriam uma guerra civil de longos anos. Dá vontade de dizer que há povos que não têm mesmo sorte.