Monday, October 31, 2005

Dividir para reinar

O maradona é um blogger com uma causa. Com a particularidade da sua causa excluir todas as outras. Deve ser por isso - e for the sake of his argument - que está convencido que as alterações climáticas não afectam os belíssimos animais que expõe, com regularidade e para nosso gáudio, no seu blogue.

[Entretanto o maradona trocou-me as voltas ao desaparecer com o belo Leopardo-das-neves(-derretidas) e o respectivo texto que o acompanhava e agora ninguém percebe nada deste post.]

Thursday, October 27, 2005

Querido diário

Hoje não dormi nada bem. Viver nas alturas dá direito a uma vista desafogada mas torna-se demasiado vulnerável a ciclones e intempéries. Não preguei olho a noite inteira com o vento a estoirar-se contra as persianas, as portas a competirem para ver quem batia com mais força e aquele vvuuuuuuuu…vvuuuuuuuu assustador que vidro duplo nenhum consegue anular.
Passei a noite toda encolhidinha na cama, a luz acesa e o edredon por cima da cabeça. E acordei a pensar na falta que faz um homem em casa.
Ou um cão.

Monday, October 24, 2005

O princípio do fim

O J. foi promovido e mudou de gabinete. Como o J. partilhava o gabinete com o L., o L. ficou momentaneamente sozinho. Digo momentaneamente porque a I., mulher do L. que também trabalha connosco, não deixou que passassem nem 24 horas para se mudar para o gabinete do seu amado. Empurrou toda a tralha do J. para um canto do gabinete – não fosse ele demorar demasiado tempo a ir buscá-la – e tratou de ocupar a sua secretária, as estantes e o cabide. Agora sim o seu sonho está cumprido: passa as 24 horas do dia colada ao seu marido. Que lindos momentos se devem passar dentro daquelas quatro paredes. Querido, passas-me o furador? [enjoo] Pitéuzinho, hoje quando sairmos daqui vamos juntos ao supermercado antes de irmos para casa. [vómitos] Amor, quem era aquela mulher ao telefone? [o princípio do fim]

Saturday, October 22, 2005

Blog zapping (18)

«As pessoas casadas (ou equiparadas) são geralmente cépticas face ao romantismo. É normal: todas as pessoas sensatas são geralmente cépticas face ao romantismo. E o casamento está mais próximo da sensatez que do romantismo. O romantismo é uma coisa embaraçosa. É uma miragem. Um tumulto. Um equívoco. Mas toda a gente em certo momento é assim e se comporta assim: com um entusiasmo juvenil quase pateta. Contra toda a racionalidade e sem nenhuma estratégia. Apenas seguindo os sentimentos (e sei que esta é uma palavra escorregadia).»

[Pedro Mexia, Atravessar o rio]

Sunday, October 16, 2005

Hora da parvoeira (1)

[Discute-se, no café, os próximos doze meses da vida do B. num dos reputadíssimos estágios do ICEP. Por norma, a localização é sempre guardada até à última. Certamente para o efeito surpresa resultar melhor.]
- Já sabes para onde vais?
- Pelas minhas contas, tanto posso ir parar a uma aldeia remota na China como ao norte da Suécia.
- A Suécia parece-me muito bem.
- Tem um certo apelativo feminino.
- Pois… Mas, no Inverno, o número de horas de luminosidade é contado por mês – de tão escassas que são. Não sei se vou aguentar.
- Não estás a ver bem a coisa. Isso de ser noite o tempo todo tem imensas potencialidades.
- Tais como?
- Já viste a duração de uma one night stand num sítio desses?

Monday, October 10, 2005

Autárquicas (I)

A troika Valentim, Isaltino e Fátima ganhou, sem grandes surpresas, as eleições nos respectivos burgos.
(E eu que não gosto nada daquela frase «o povo tem os líderes que merece».)

Autárquicas (II)

Quanto à derrota do Avelino e a respectiva culpa dos jornalistas, como dizia o Miguel Sousa Tavares, estamos todos tão orgulhosos dessa bela profissão.

Autárquicas (III)

Proponho que o momento mais triste da noite seja atribuído ao Rui Rio a cantar o hino nacional.
Já que as barbaridades do Avelino nos deram um gozo especial, a exaltação à beira do enfarte cardíaco de Valentim soou demasiado a déjà vu e o discurso da Fatinha entediou de morte.

Wednesday, October 05, 2005

Ter um blog

Persianas abertas, porta fechada.
(Pela janela, vê quem quer mas apenas o que queremos mostrar.)

Saturday, October 01, 2005

Blog zapping (17)

«O sofrimento é mais real do que parece, mais inútil, menos metafísico. E nasce um grande respeito por aqueles que, tocados por doenças terminais, resistem até onde podem; ou desistem, com ou sem dignidade. A dignidade é boa para observar nos outros. Mas morre-se bastante sem que a dignidade nos devolva a vida. Não tem nada a ver com tranquilidade, com esperança, com determinação. Morrer com dignidade, morrer em silêncio, deixar um rasto de coisas por fazer. Não há mais nada, em certas alturas.»

[Francisco José Viegas, Corpo, traiçoeiro]