Saturday, March 25, 2006
Friday, March 24, 2006
Sempre achei os sportinguistas especialmente espirituosos *
- Que jogo é este?
- É para a taça: Setúbal-Guimarães.
- Ah… quem ganhar joga contra o Porto, não é?
- Moralmente, quem ganhar vai à final com o Sporting.
* O maradona é um bom exemplo. E amua, como todos os que eu conheço.
- É para a taça: Setúbal-Guimarães.
- Ah… quem ganhar joga contra o Porto, não é?
- Moralmente, quem ganhar vai à final com o Sporting.
* O maradona é um bom exemplo. E amua, como todos os que eu conheço.
Thursday, March 23, 2006
Sentimento de perda
Perder um amigo é perder um amigo. Perder um namorado é perder um namorado.
(Eu sinto tudo como um desgosto de amor.)
(Eu sinto tudo como um desgosto de amor.)
Wednesday, March 22, 2006
Sunday, March 19, 2006
Desabafo II
Hoje, depois de uma noite muito mal dormida, acordei a sentir-me especialmente cabra. Por vezes também acontece acordar a sentir-me boa pessoa. (Vou abster-me de desvendar a frequência com que, nestes últimos dias, a hipótese A se sobrepôs de forma arrasadora à hipótese B.)
Saturday, March 18, 2006
Wednesday, February 22, 2006
SMS regressada de férias
Vamos ter que rever os pilares da nossa amizade, meu menino. A Bomba, aquela deusa grega, linka-me e tu não me avisas? Eu aqui desterrada sem ler blogues há bem mais de duas semanas… Ia-me dando uma síncope e tu eras moralmente responsável. E não penses que não ias morrer de saudades minhas. Até porque depois quem é que te mandava mensagens idiotas destas?
Saturday, February 18, 2006
Wednesday, February 15, 2006
L'amant (1)
Un jour, j'étais agéé déjà, dans le hall d'un lieu public, un homme est venu vers moi. Il s'est fait connaitre et il m'a dit: "Je vous connais depuis toujours. Tout le monde dit que vous étiez belle lorsque vous étiez jeune, je suis venu pour vous dire que pour moi je vous trouve plus belle maintenant que lorsque vous étiez jeune; j'aimais moins votre visage de jeune femme que celui que vous avez maintenant, devasté."
[O Luís tinha uma rubrica, há uns tempos, sobre começos de livros. Este é precioso.]
[O Luís tinha uma rubrica, há uns tempos, sobre começos de livros. Este é precioso.]
Monday, February 13, 2006
Inspira, expira, inspira, expira…

- Não sei como me convenceste a embarcar nesta linda aventura. Não é suposto termos feito um curso de mergulho antes de ir para o mar? Eu mal sei como isto funciona.
[Inspira, expira, inspira, expira]
- O mergulhador já te explicou. Vai treinando enquanto não chega a tua vez.
[Inspira, expira, inspira, expira]
- E se alguma coisa corre mal? Se eu me engasgar, se parar de respirar? Quanto tempo é que demoram a puxar o meu corpo inanimado para cima?
[Inspira, expira, inspira, expira]
- Deixa de ser melodramática. Além disso, o mergulhador engraçou contigo e diz que te leva de mão dada a ver o fundo do mar.
[Inspira, expira, inspira, expira]
- O que eu mais quero, aliás, é um gajo armado em engatatão no fundo mar quando eu estou preocupada em não deixar entrar água.
[Inspira, expira, inspira, expira]
- Ele também diz que tem prática de respiração boca-a-boca…
[Inspira, expira, inspira, expira]
- Estás cheia de piada. Cala-te lá um bocadinho e deixa-me concentrar.
[Inspira, expira, inspira, expira.]
Entretanto, já dentro de água e à espera de submergir, o mergulhador aproxima-se dela sorrateiramente.
« - On y va?
- Errr… oui…
- T’es nerveuse?
- C’est ma première fois.
- T’inquiètes pas. Je le ferais doucement.»
Saturday, February 11, 2006
Já agora
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le cœur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leurs cœurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
D'un ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas.
(Jacques Brel)
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le cœur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leurs cœurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
D'un ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas.
(Jacques Brel)
Friday, February 10, 2006
Tuesday, February 07, 2006
L’amant de Marguerite Duras
Ciente de que o meu francês anda uma lástima, agarrei o primeiro livro nessa língua que me apareceu lá em casa, para me acompanhar nestas (merecidas) férias. E o livro que me veio parar às mãos dificilmente poderia ser mais do meu agrado. Não sei, aliás, como me tinha escapado até agora.
Sunday, February 05, 2006
Friday, February 03, 2006
De papo para o ar
Durante os próximos dias.
Uma oportunidade de viagem para o Senegal aproveitada em cima da hora. Malas feitas a correr; música e livros escolhidos à pressa; sem tempo para despedidas.
Uma oportunidade de viagem para o Senegal aproveitada em cima da hora. Malas feitas a correr; música e livros escolhidos à pressa; sem tempo para despedidas.
Thursday, January 26, 2006
MEC
Não é propriamente difícil achar o Miguel Esteves Cardoso brilhante, independentemente das divergências quanto à sua posição na hierarquia dos melhores escritores portugueses. Mas mais do que achá-lo genial, eu confesso que tenho desde há muito um carinho especial por ele. Foi por causa de um livro do Miguel Esteves Cardoso que descobri, quando era mais miúda, que sexo oral afinal não era “talk dirty”. A surpreendente descoberta vale o que vale mas, na altura, deu origem a uma das melhores conversas com as minhas amigas de que tenho memória e o livro passou de mão em mão.
Há influências que merecem reconhecimento. Acho que é a isto que a Carla se refere.
Há influências que merecem reconhecimento. Acho que é a isto que a Carla se refere.
Monday, January 23, 2006
Rescaldo das eleições
A candidatura de Mário Soares era, de longe, a melhor opção de entre as que se apresentaram, mesmo que eu tenha tido alguma dificuldade em aceitá-la inicialmente e nunca tenha chegado a conquistar totalmente o meu alento de cidadã. Senti, por isso, a estrondosa derrota como particularmente injusta, em especial tendo em conta os dois grandes vencedores da noite.
O voto em Jerónimo de Sousa não me surpreendeu: o líder é carismático e consegue ocultar de uma forma extraordinária o lado mais ortodoxo que representa. Naquela série de entrevistas mais intimistas da SIC, o candidato do PCP mostrou bem de onde surge e como se constrói o grande apelativo que, na actual conjuntura, lhe tem dado os frutos das três últimas eleições. O resultado do Bloco de Esquerda, por outro lado, não fez jus ao desempenho do candidato mais bem preparado desta corrida eleitoral. Não me parece, porém, que deva ser encarado com grandes dramatismos: o combate era bastante difícil e os arautos do “fim da novidade do BE” reflectem mais um “wishful thinking” do que uma análise fundamentada do panorama político nacional.
De facto, o mais interessante destas eleições foi, como já todos os analistas têm dito, o voto “contra o sistema” que une Cavaco Silva e Manuel Alegre. Que o centro-direita, assim como a direita ideológica, à falta de candidato próprio, vote Cavaco não me espanta. [Embora, por instantes, ainda tivesse acreditado que a abstenção dos indecisos de direita (induzidos pelas sondagens e convencidos da fácil vitória do Cavaco sem a necessidade do seu voto) fosse suficiente para obrigar a uma segunda volta – o que, por pouco, não se verificou.] Da mesma forma que o voto em Alegre por parte de quem pertence à área socialista mas discordava vivamente da orientação da direcção do PS não me parece totalmente deslocado – apesar da prestação deste candidato ter sido a grande decepção das presidenciais.
Todavia, enquanto voto “contra o sistema”, o voto em Cavaco Silva, supostamente apolítico e supra-partidário, tal como o voto em Manuel Alegre, supostamente movimento de cidadania, é uma fraude. Um por mais que se queira distanciar não deixa de ser ex-Primeiro Ministro e líder partidário e, por mais que se esforçasse por minimizar, era apoiado por duas máquinas partidárias. O outro só passa a achar que «há mais espaço para além dos partidos» quando aquele onde sempre esteve e do qual vive até hoje o preteriu. A sua hesitação em avançar após a candidatura de Soares não foi por não querer dividir o partido, foi porque receava não o conseguir fazer. Assim que as sondagens lhe garantiram que tinha essa margem de manobra, as dúvidas dissiparam-se.
O falacioso discurso que ambos utilizaram encontrou eco junto de uma parte significativa do eleitorado, o que exige uma profunda reflexão. Assim de repente ocorre-me que, dados os resultados eleitorais, o oportunismo político compensa. Mas pode ser da neura.
O voto em Jerónimo de Sousa não me surpreendeu: o líder é carismático e consegue ocultar de uma forma extraordinária o lado mais ortodoxo que representa. Naquela série de entrevistas mais intimistas da SIC, o candidato do PCP mostrou bem de onde surge e como se constrói o grande apelativo que, na actual conjuntura, lhe tem dado os frutos das três últimas eleições. O resultado do Bloco de Esquerda, por outro lado, não fez jus ao desempenho do candidato mais bem preparado desta corrida eleitoral. Não me parece, porém, que deva ser encarado com grandes dramatismos: o combate era bastante difícil e os arautos do “fim da novidade do BE” reflectem mais um “wishful thinking” do que uma análise fundamentada do panorama político nacional.
De facto, o mais interessante destas eleições foi, como já todos os analistas têm dito, o voto “contra o sistema” que une Cavaco Silva e Manuel Alegre. Que o centro-direita, assim como a direita ideológica, à falta de candidato próprio, vote Cavaco não me espanta. [Embora, por instantes, ainda tivesse acreditado que a abstenção dos indecisos de direita (induzidos pelas sondagens e convencidos da fácil vitória do Cavaco sem a necessidade do seu voto) fosse suficiente para obrigar a uma segunda volta – o que, por pouco, não se verificou.] Da mesma forma que o voto em Alegre por parte de quem pertence à área socialista mas discordava vivamente da orientação da direcção do PS não me parece totalmente deslocado – apesar da prestação deste candidato ter sido a grande decepção das presidenciais.
Todavia, enquanto voto “contra o sistema”, o voto em Cavaco Silva, supostamente apolítico e supra-partidário, tal como o voto em Manuel Alegre, supostamente movimento de cidadania, é uma fraude. Um por mais que se queira distanciar não deixa de ser ex-Primeiro Ministro e líder partidário e, por mais que se esforçasse por minimizar, era apoiado por duas máquinas partidárias. O outro só passa a achar que «há mais espaço para além dos partidos» quando aquele onde sempre esteve e do qual vive até hoje o preteriu. A sua hesitação em avançar após a candidatura de Soares não foi por não querer dividir o partido, foi porque receava não o conseguir fazer. Assim que as sondagens lhe garantiram que tinha essa margem de manobra, as dúvidas dissiparam-se.
O falacioso discurso que ambos utilizaram encontrou eco junto de uma parte significativa do eleitorado, o que exige uma profunda reflexão. Assim de repente ocorre-me que, dados os resultados eleitorais, o oportunismo político compensa. Mas pode ser da neura.
Saturday, January 14, 2006
Um post mais ou menos político *
A família do A. dá-se bastante bem. Gostam muito uns dos outros, não têm feitios demasiado incompatíveis e, tirando uma ou outra zanga familiar mais normal, em regra é uma alegria ir lá jantar.
Excepto em altura de eleições.
Mãe, Pai e filho são PCP ferrenhos. Lá em casa celebra-se com ardor o 1º de Maio e o 25 de Abril de cravo na lapela. Todos os anos, sem esquecimentos. No entanto, a avó, de há um bom tempo para cá, destoa de forma flagrante. Mais concretamente, desde 1985. Ainda mais concretamente, desde que pôs os olhos em cima do Cavaco Silva.
Foi uma espécie de amor à primeira vista, mas revisitado. Diz ela, muito convictamente, que ele se parece com o seu falecido marido. E o raciocínio prossegue mais ou menos assim: parecido com o marido – marido boa pessoa – Cavaco necessariamente boa pessoa – boa pessoa dá bom primeiro-ministro – em eleições, votar Cavaco – votar Cavaco é votar PSD – e, a partir daí, nunca mais votar noutro partido.
A restante família, indignada, começou por apelar à razão: não se vota num partido porque o líder ou ex-líder se parece com alguém de quem gostamos. Ao que se seguiram inúmeras e extenuantes tentativas de endoutrinação. Escusado será dizer que não funcionou.
O desespero aumentava, esqueceu-se a racionalidade e passou-se a apelar à estética: não é nada parecido com o pai, sogro e avô – isso, aliás, até é um insulto. Mas a estética não se discute e ela tinha mais autoridade do que qualquer outro membro da família para dizer se o Cavaco era ou não parecido com o marido de tantos anos. No meio das discussões levantava-se e ia buscar fotografias para provar a sua convicção.
Inicialmente a discussão ressurgia sempre que havia campanhas eleitorais. Os mesmos argumentos, a mesma resposta, a mesma intenção de voto. Progressivamente a família foi-se dando por vencida e parou de chatear incessantemente a senhora. Agora mandava bocas para o ar e troçava da ignorância. A avó, impávida e serena, fazia-se de despercebida e lá punha a cruz no mesmo sítio de sempre.
O potencial fracturante destas eleições presidenciais foi entendido por todos. Os nervos estão à flor da pele mas, desta vez, lá em casa, não há discussões nem comentários maldosos. Não se toca no assunto e assobia-se para o ar durante o telejornal. Volta-se do comício como se se voltasse do café. Descarrega-se tudo lá fora e entra-se para jantar com um sorriso amarelo. No dia 23, reconciliam-se e voltam a ser uma família normal.
* Dedicado ao Super Mário, em jeito de agradecimento pelo link. (Estamos no mesmo barco. Embora eu esteja mais como peso morto e vocês a remar, confesso.)
Excepto em altura de eleições.
Mãe, Pai e filho são PCP ferrenhos. Lá em casa celebra-se com ardor o 1º de Maio e o 25 de Abril de cravo na lapela. Todos os anos, sem esquecimentos. No entanto, a avó, de há um bom tempo para cá, destoa de forma flagrante. Mais concretamente, desde 1985. Ainda mais concretamente, desde que pôs os olhos em cima do Cavaco Silva.
Foi uma espécie de amor à primeira vista, mas revisitado. Diz ela, muito convictamente, que ele se parece com o seu falecido marido. E o raciocínio prossegue mais ou menos assim: parecido com o marido – marido boa pessoa – Cavaco necessariamente boa pessoa – boa pessoa dá bom primeiro-ministro – em eleições, votar Cavaco – votar Cavaco é votar PSD – e, a partir daí, nunca mais votar noutro partido.
A restante família, indignada, começou por apelar à razão: não se vota num partido porque o líder ou ex-líder se parece com alguém de quem gostamos. Ao que se seguiram inúmeras e extenuantes tentativas de endoutrinação. Escusado será dizer que não funcionou.
O desespero aumentava, esqueceu-se a racionalidade e passou-se a apelar à estética: não é nada parecido com o pai, sogro e avô – isso, aliás, até é um insulto. Mas a estética não se discute e ela tinha mais autoridade do que qualquer outro membro da família para dizer se o Cavaco era ou não parecido com o marido de tantos anos. No meio das discussões levantava-se e ia buscar fotografias para provar a sua convicção.
Inicialmente a discussão ressurgia sempre que havia campanhas eleitorais. Os mesmos argumentos, a mesma resposta, a mesma intenção de voto. Progressivamente a família foi-se dando por vencida e parou de chatear incessantemente a senhora. Agora mandava bocas para o ar e troçava da ignorância. A avó, impávida e serena, fazia-se de despercebida e lá punha a cruz no mesmo sítio de sempre.
O potencial fracturante destas eleições presidenciais foi entendido por todos. Os nervos estão à flor da pele mas, desta vez, lá em casa, não há discussões nem comentários maldosos. Não se toca no assunto e assobia-se para o ar durante o telejornal. Volta-se do comício como se se voltasse do café. Descarrega-se tudo lá fora e entra-se para jantar com um sorriso amarelo. No dia 23, reconciliam-se e voltam a ser uma família normal.
* Dedicado ao Super Mário, em jeito de agradecimento pelo link. (Estamos no mesmo barco. Embora eu esteja mais como peso morto e vocês a remar, confesso.)
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