Não há nada de mais irreversível do que a morte.
A ideia de que alguém possa desaparecer subitamente para sempre é inconcebível para mim. E, no entanto, acontece todos os dias. E, no entanto, já senti isso na pele mais do que uma vez. E, no entanto, continua a ser inconcebível.
Sunday, May 30, 2004
Confissão que me envergonha
Tenho muito medo que, em cada um destes funerais, tenha chorado mais pela minha dor do que pela dos meus amigos.
Aguarela em tons de cinzento (muito escuro)
Fui hoje ao sexto funeral dos últimos três meses. Ainda não estou em mim.
O primeiro de todos dizia-me respeito directamente e foi muito duro. Não me parecia minimamente possível que alguma vez conseguisse pensar nisso sem ficar totalmente de rastos. Ainda me estou a ressentir mas, com o passar do tempo, ia tendo a sensação de que o desespero se ia atenuando e dando lugar à imensa saudade que, apesar de subsistir para sempre, acaba por ser mais fácil de aceitar.
Os funerais seguintes foram de familiares chegados de amigos meus e parece que cada vez me custam mais. Não só por chocarem individualmente como por serem em série. Além de serem dias especialmente cruéis por implicarem partilhar a dor de amigos, mostram-me, de uma forma brutal, o quão vulnerável sou a determinadas reminiscências.
Deixaram-me uma sensação vertiginosa, quase irreal, de que pode acontecer a qualquer momento, a qualquer pessoa que me esteja próxima. Assim é difícil pôr-me de pé, quanto mais, ajudar os outros a reagir.
O primeiro de todos dizia-me respeito directamente e foi muito duro. Não me parecia minimamente possível que alguma vez conseguisse pensar nisso sem ficar totalmente de rastos. Ainda me estou a ressentir mas, com o passar do tempo, ia tendo a sensação de que o desespero se ia atenuando e dando lugar à imensa saudade que, apesar de subsistir para sempre, acaba por ser mais fácil de aceitar.
Os funerais seguintes foram de familiares chegados de amigos meus e parece que cada vez me custam mais. Não só por chocarem individualmente como por serem em série. Além de serem dias especialmente cruéis por implicarem partilhar a dor de amigos, mostram-me, de uma forma brutal, o quão vulnerável sou a determinadas reminiscências.
Deixaram-me uma sensação vertiginosa, quase irreal, de que pode acontecer a qualquer momento, a qualquer pessoa que me esteja próxima. Assim é difícil pôr-me de pé, quanto mais, ajudar os outros a reagir.
Saturday, May 29, 2004
Pedro Mexia - momentos rolleiflex (II)
Fui ver o lançamento do livro do Pedro Mexia, Fora do Mundo, ainda em choque por ter lido horas antes que o Dicionário do Diabo ia terminar.
Estive lá quietinha no meu canto, em jeito de “fã babada”, indecisa entre a excitação de estar a ver o Pedro Mexia ao vivo e a cores (eu disse que era mesmo paixão platónica) e a nostalgia de já não poder acompanhar o meu verdadeiro favorito da blogosfera.
O Pedro Mexia escreve muitíssimo bem, tem imenso sentido de humor, e é de uma sensibilidade arrepiante. Ainda que a sensação de conhecermos quem está do lado de lá do blog seja bastante aparente, arrisco-me, principalmente, a dizer que o Pedro me parece ser muito boa pessoa (e este é um elogio que não se faz a qualquer um).
Resta-me a esperança de pensar que as esporádicas vezes que escrever no Fora do mundo significarão sempre uma excelente surpresa.
Estive lá quietinha no meu canto, em jeito de “fã babada”, indecisa entre a excitação de estar a ver o Pedro Mexia ao vivo e a cores (eu disse que era mesmo paixão platónica) e a nostalgia de já não poder acompanhar o meu verdadeiro favorito da blogosfera.
O Pedro Mexia escreve muitíssimo bem, tem imenso sentido de humor, e é de uma sensibilidade arrepiante. Ainda que a sensação de conhecermos quem está do lado de lá do blog seja bastante aparente, arrisco-me, principalmente, a dizer que o Pedro me parece ser muito boa pessoa (e este é um elogio que não se faz a qualquer um).
Resta-me a esperança de pensar que as esporádicas vezes que escrever no Fora do mundo significarão sempre uma excelente surpresa.
Friday, May 28, 2004
Desvantagens de viver sozinha/o
Estou a inaugurar uma secção sobre as desvantagens de viver sozinha/o. As vantagens ficam para outra altura que ainda estou numa de bradar aos céus.
O episódio anterior demonstra a primeira: sair de casa sem ninguém que discretamente nos inspeccione para ver se não abalamos porta fora, por exemplo, com o botão da camisa desapertado a mostrar o soutien, ou com aquela fita de cabelo muito foleira de uso exclusivo no banho… enfim, aqueles actos típicos de despistadas como eu.
[Um comentário a dizer “hoje estás um espanto” também viria a calhar logo pela manhã. Mas, eu sei, eu sei, isso também já é pedir demais.]
O episódio anterior demonstra a primeira: sair de casa sem ninguém que discretamente nos inspeccione para ver se não abalamos porta fora, por exemplo, com o botão da camisa desapertado a mostrar o soutien, ou com aquela fita de cabelo muito foleira de uso exclusivo no banho… enfim, aqueles actos típicos de despistadas como eu.
[Um comentário a dizer “hoje estás um espanto” também viria a calhar logo pela manhã. Mas, eu sei, eu sei, isso também já é pedir demais.]
Thursday, May 27, 2004
Ligeiramente despistada
Manhã de trabalho. Pelo meio, uma apresentação com direito a quadro (pormenor relevante). Breve almoço com os big bosses.
Início da tarde. Sentada ao computador, abro distraidamente a janela e desfruto da aragem agradável que percorre o corpo todo, em especial as costas. Em especial as costas? Num gesto rápido, ponho as mãos no local onde a brisa suave se tinha tornado de repente mais fresca e sinto a pele. Coisa estranha. Segue-se uma embaraçosa ida à casa de banho para confirmar as evidências e lá está: um rasgão de um tamanho arrasador e flagrantemente visível nas costas da camisa.
Chamo-me uns quantos nomes, dou o expediente por terminado, escrevo um recado às minhas colegas [tem de ser] de gabinete a descompô-las por não me terem avisado das figuras lindas que andei a fazer o dia todo e ponho-me a andar dali para fora.
[Claro que a versão alternativa seria que só quando me sentei ao computador é que a camisa se rasgou, mas isso implica rever toda a minha esperança de que as aulas de body combat estejam a dar os seus frutos para o Verão e, francamente, não me está nada a apetecer. Aliás, tecnicamente falando, não seria possível: teria obviamente ouvido a camisa a rasgar. Querem convencer-me que estou gorda, é o que é. Mas não. É mais do que claro que fui alvo de risota o dia todo e pronto.]
Início da tarde. Sentada ao computador, abro distraidamente a janela e desfruto da aragem agradável que percorre o corpo todo, em especial as costas. Em especial as costas? Num gesto rápido, ponho as mãos no local onde a brisa suave se tinha tornado de repente mais fresca e sinto a pele. Coisa estranha. Segue-se uma embaraçosa ida à casa de banho para confirmar as evidências e lá está: um rasgão de um tamanho arrasador e flagrantemente visível nas costas da camisa.
Chamo-me uns quantos nomes, dou o expediente por terminado, escrevo um recado às minhas colegas [tem de ser] de gabinete a descompô-las por não me terem avisado das figuras lindas que andei a fazer o dia todo e ponho-me a andar dali para fora.
[Claro que a versão alternativa seria que só quando me sentei ao computador é que a camisa se rasgou, mas isso implica rever toda a minha esperança de que as aulas de body combat estejam a dar os seus frutos para o Verão e, francamente, não me está nada a apetecer. Aliás, tecnicamente falando, não seria possível: teria obviamente ouvido a camisa a rasgar. Querem convencer-me que estou gorda, é o que é. Mas não. É mais do que claro que fui alvo de risota o dia todo e pronto.]
Dor de corno
Querem um exemplo paradigmático? Os dois últimos posts.
Enfim, nestas situações uma pessoa tem que se agarrar a alguma coisa.
Enfim, nestas situações uma pessoa tem que se agarrar a alguma coisa.
Wednesday, May 26, 2004
Dante aplicado ao mundo do futebol?
O infortúnio dos vencedores é viverem constantemente com a certeza de que um dia as vitórias terão um fim.
Recado para benfiquistas (especialmente para os que, como eu, torceram patrioticamente por esta vitória)
Duas notas positivas, além da taça “vir para Portugal”:
1) os festejos não podem durar para sempre;
2) a próxima época do Porto, meus caros, só pode ser pior.
1) os festejos não podem durar para sempre;
2) a próxima época do Porto, meus caros, só pode ser pior.
Tuesday, May 25, 2004
Corte e costura
Em pleno zapping, eis que me deparo com o que terá sido, certamente, o grande momento da noite da cerimónia dos Globos de Ouro: o encontro entre o vestido preto com decote até ao umbigo a combinar com o penteado às ondas da Fátima Lopes e o vestido hollywoodesco de cauda de metro e meio da Catarina Furtado. Concorrência a quanto obrigas.
Monday, May 24, 2004
Banhos de sol
Eu costumo chamar “lagartear”. É, aliás, dos meus momentos preferidos do dia sempre que espreita um raio de sol. Hmm… e o que me apetecia lagartear agora (oops, isto soa a outra coisa).
Sunday, May 23, 2004
Saturday, May 22, 2004
Prémio para o melhor título sobre o casório
(na Maria, ou na Ana, ou outra parecida)
«O triunfo das divorciadas»
«O triunfo das divorciadas»
Friday, May 21, 2004
Agustina – momentos rolleiflex
Pedimos imensas desculpas por estar a incomodá-la e certamente a interrompê-la no seu trabalho. Qual quê. Tenho o maior prazer. Sentem-se. Tomamos um chá, minhas queridas.
Foi assim que a Agustina Bessa-Luís amavelmente nos recebeu, a mim e a uma amiga minha, em sua casa no Porto para uma entrevista no âmbito de um projecto de investigação em que estávamos a trabalhar na altura.
Entrámos obviamente um pouco acanhadas pela dimensão da personagem e ela lá nos esperava com o sorriso que lhe é característico, de vestido e com o cabelo apanhado atrás, numa pose inacreditavelmente romântica. Acolheu-nos no seu recanto de leitura, ironicamente com muito pouca luz, com os seus apontamentos escritos à mão espalhados em cima de uma pequena mesa redonda, acompanhada por uma poltrona e um candeeiro antigos. Nada de modernices.
A Agustina Bessa-Luís foi de uma delicadeza insuperável, mas ao mesmo tempo muito viva, frontal, astuta. Tratou-nos tão bem, tão bem que (a acrescer ao facto de termos tido algumas experiências anteriores de interlocutores bastante desagradáveis) será praticamente impossível alguma vez vir a ter má impressão dela. Aquele fugaz contacto excedeu todas as minhas expectativas, o que era complicado, tendo em conta que estas eram já bastante elevadas.
Se calhar pareço incrivelmente infantil [e novidades?], mas fico comovida sempre que um escritor corresponde ao que imaginei. Talvez seja por gostar de me apaixonar pelo conjunto (daí, porventura, a minha tendência irreprimível de mudar de canal sempre que vejo o Saramago).
Não preciso de dizer que saí de lá completamente rendida e fã para toda a vida, pois não?
PS- a Aguarela pode ser anónima mas jura que não inventou esta história. Pronto, talvez tenha confabulado um bocadinho, mas também quem é que quer ouvir a realidade nua e crua dos factos?
Foi assim que a Agustina Bessa-Luís amavelmente nos recebeu, a mim e a uma amiga minha, em sua casa no Porto para uma entrevista no âmbito de um projecto de investigação em que estávamos a trabalhar na altura.
Entrámos obviamente um pouco acanhadas pela dimensão da personagem e ela lá nos esperava com o sorriso que lhe é característico, de vestido e com o cabelo apanhado atrás, numa pose inacreditavelmente romântica. Acolheu-nos no seu recanto de leitura, ironicamente com muito pouca luz, com os seus apontamentos escritos à mão espalhados em cima de uma pequena mesa redonda, acompanhada por uma poltrona e um candeeiro antigos. Nada de modernices.
A Agustina Bessa-Luís foi de uma delicadeza insuperável, mas ao mesmo tempo muito viva, frontal, astuta. Tratou-nos tão bem, tão bem que (a acrescer ao facto de termos tido algumas experiências anteriores de interlocutores bastante desagradáveis) será praticamente impossível alguma vez vir a ter má impressão dela. Aquele fugaz contacto excedeu todas as minhas expectativas, o que era complicado, tendo em conta que estas eram já bastante elevadas.
Se calhar pareço incrivelmente infantil [e novidades?], mas fico comovida sempre que um escritor corresponde ao que imaginei. Talvez seja por gostar de me apaixonar pelo conjunto (daí, porventura, a minha tendência irreprimível de mudar de canal sempre que vejo o Saramago).
Não preciso de dizer que saí de lá completamente rendida e fã para toda a vida, pois não?
PS- a Aguarela pode ser anónima mas jura que não inventou esta história. Pronto, talvez tenha confabulado um bocadinho, mas também quem é que quer ouvir a realidade nua e crua dos factos?
Thursday, May 20, 2004
Bem-vindo
O rapaz e o seu blog são absolutamente brilhantes. Sem qualquer dúvida, o melhor da blogosfera. E, obviamente, uma das cores primárias da minha paleta.
[Não te preocupes, Pedro, o post anterior foi só uma brincadeira. Tens uma admiradora incontestável mas não há perigo de te envolveres numa versão portuguesa do “Atracção Fatal”. I am, indeed, perfectly harmless.]
[Não te preocupes, Pedro, o post anterior foi só uma brincadeira. Tens uma admiradora incontestável mas não há perigo de te envolveres numa versão portuguesa do “Atracção Fatal”. I am, indeed, perfectly harmless.]
Monday, May 17, 2004
Derrota(s)
Fiquei com uma dúvida em relação ao raciocínio do Ivan: o facto de se ficar em terceiro não implica perder para o primeiro e segundo lugares? Assim sendo, mesmo antes da Taça, o Sporting não tinha já perdido para ambos, Porto e Benfica, no Campeonato? (Ainda que não por um mérito excepcional do Benfica – que não passou, por milagre, a jogar bem nas últimas jornadas – mas por falha própria).
Não me levem a mal os sportinguistas, não é presunção minha (até porque, tendo em conta o historial da última década, um segundo lugar e uma taça são motivos de contentamento mas, decididamente, não de arrogância); é um truque para “poupar angústias” por parte de quem está habituada a que as derrotas sejam quase sempre no plural.
[toque de optimismo (e utopia) a finalizar este post: this may well be the beginning of a beautiful new cycle]
Não me levem a mal os sportinguistas, não é presunção minha (até porque, tendo em conta o historial da última década, um segundo lugar e uma taça são motivos de contentamento mas, decididamente, não de arrogância); é um truque para “poupar angústias” por parte de quem está habituada a que as derrotas sejam quase sempre no plural.
[toque de optimismo (e utopia) a finalizar este post: this may well be the beginning of a beautiful new cycle]
Friday, May 14, 2004
Pincel com vontade própria
«Why can you decide how I’m feeling now?»
[adaptação de “Ok! Do you want something simple?”, The gift]
[adaptação de “Ok! Do you want something simple?”, The gift]
Wednesday, May 12, 2004
house-barra-woman-hunting
É enternecedor o que nos conta o Rui Branco sobre o clima de empatia com a sua agente imobiliária. E mais ainda os comentários dos leitores, sempre sedentos por este tipo de posts nos blogs por norma mais políticos e por isso menos íntimos.
A recusa em dar a história por terminada é unânime (count me in). Assim como o apego a finais felizes.
A blogosfera conspira para que tudo dê certo, Rui.
A recusa em dar a história por terminada é unânime (count me in). Assim como o apego a finais felizes.
A blogosfera conspira para que tudo dê certo, Rui.
Tuesday, May 11, 2004
Conversas insólitas
Um idiota a tentar a sua sorte com uma amiga minha:
- Pelos vistos és uma rapariga de ideias formadas [a ver se o elogio pega]. Então e és politicamente activa, pertences a algum partido?
- Não pertenço, sou apenas simpatizante do PSD.
- [armado em engraçadinho] olha, olha, uma menina de esquerda.
[vai uma aposta em como era monárquico?]
- Pelos vistos és uma rapariga de ideias formadas [a ver se o elogio pega]. Então e és politicamente activa, pertences a algum partido?
- Não pertenço, sou apenas simpatizante do PSD.
- [armado em engraçadinho] olha, olha, uma menina de esquerda.
[vai uma aposta em como era monárquico?]
Monday, May 10, 2004
Lembranças
É este, instintivamente, o meu primeiro link.
O blog da minha "madrinha" é muito pessoal. É lindo, lindo como ela.
O blog da minha "madrinha" é muito pessoal. É lindo, lindo como ela.
Sunday, May 09, 2004
Por falar em Euro
Estou mortinha por rever as minhas bifinhas, com os seus tank tops a dizer “England”, as suas micro-saias e sandalocas de 10 cm, bastante bebidas, a passearem-se pelas ruas de Portugal.
Aguarela a preto e branco
Fui hoje pela primeira vez a um dos estádios do Euro, mais precisamente ao de Coimbra, ver a Académica conseguir a proeza de se manter na primeira divisão. Eu gosto de ir à bola mas, por mil e uma razões, já não ia há uns tempos. Redimi-me e, para me fazer ver que deveria reincidir, tive um bónus: literalmente para variar, a equipa pela qual eu estava a torcer in loco venceu. E, ainda por cima, por 4-1. (A briosa hoje estava louca.)
A frase do jogo foi, sem dúvida, “Por favor não invadam o campo. Vamos fazer uma festa bonita, bonita lá fora.” Foi repetida várias vezes mas o pedido só se tornou verdadeiramente convincente quando faltavam aí uns quinze minutos para acabar o jogo e começam a entrar os polícias de choque com cães e ar ameaçador, em número considerável, especialmente de frente para a Mancha Negra. As assobiadelas ecoaram por todo o estádio mas, de facto, o efeito de dissuasão resultou – os meninos não se entusiasmaram em demasia e o final da festa não deu para o torto.
Estamo-nos a preparar para o Euro.
A frase do jogo foi, sem dúvida, “Por favor não invadam o campo. Vamos fazer uma festa bonita, bonita lá fora.” Foi repetida várias vezes mas o pedido só se tornou verdadeiramente convincente quando faltavam aí uns quinze minutos para acabar o jogo e começam a entrar os polícias de choque com cães e ar ameaçador, em número considerável, especialmente de frente para a Mancha Negra. As assobiadelas ecoaram por todo o estádio mas, de facto, o efeito de dissuasão resultou – os meninos não se entusiasmaram em demasia e o final da festa não deu para o torto.
Estamo-nos a preparar para o Euro.
Saturday, May 08, 2004
Perfeição na simultaneidade?
«(…) não tenho a certeza de que a descoberta do amor seja forçosamente mais deliciosa que a da poesia.»
[Marguerite Yourcenar, 2002 (1974), As memórias de Adriano. Lisboa: Ulisseia, p.34]
[Marguerite Yourcenar, 2002 (1974), As memórias de Adriano. Lisboa: Ulisseia, p.34]
Friday, May 07, 2004
Estalinismo romântico
Li o brilhante post do Luís Filipe Borges sobre o facto de José Saramago ter expurgado, num acto simbólico, as outras mulheres da sua vida e dei por mim – inadvertidamente – a esboçar um sorriso.
Não é que concorde. Racionalmente, não me parece fazer grande sentido apagar o que já foi nosso. Para além disso, o saudável seria não ter ciúmes de um passado que não nos pertence*. Mesmo assim sorri. Sem dúvida por me ter soado a prova de amor. Ainda que obsessiva.
[Logo a seguir vi o comentário (cientificamente reconhecido) do Filipe Nunes Vicente e fiquei preocupada.]
* Se não me engano, retive esta frase quando li o Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, aí pelo meu 7º ano. Retive-a na altura e vem-me à cabeça sempre que se conjuga paixões antigas com ciúmes. Mas agora tendo a considerá-la falaciosa. Se o passado necessariamente nos compõe, nos altera, nos influencia, como é possível que não pertença também a todos os que fazem parte do nosso presente?
Não é que concorde. Racionalmente, não me parece fazer grande sentido apagar o que já foi nosso. Para além disso, o saudável seria não ter ciúmes de um passado que não nos pertence*. Mesmo assim sorri. Sem dúvida por me ter soado a prova de amor. Ainda que obsessiva.
[Logo a seguir vi o comentário (cientificamente reconhecido) do Filipe Nunes Vicente e fiquei preocupada.]
* Se não me engano, retive esta frase quando li o Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, aí pelo meu 7º ano. Retive-a na altura e vem-me à cabeça sempre que se conjuga paixões antigas com ciúmes. Mas agora tendo a considerá-la falaciosa. Se o passado necessariamente nos compõe, nos altera, nos influencia, como é possível que não pertença também a todos os que fazem parte do nosso presente?
Thursday, May 06, 2004
Wednesday, May 05, 2004
Birthday Reminder
Recebi um mail, de livre e espontânea vontade, do Birthday Alarm.com a avisar que hoje, 5 de Maio, se celebra a data de nascimento de Karl Marx.
Importam-se de fazer forward?
Importam-se de fazer forward?
«Fechamo-nos em casa a recuperar o tempo perdido»
Respondeu a Raquel Cruz há uns bons meses atrás, numa das dezenas de entrevistas que deu - já nem sei onde -, quando lhe perguntaram o que faria assim que o marido fosse libertado.
[Foi a primeira coisa que me ocorreu quando soube da novidade. Que obsessão a minha, bolas]
[Foi a primeira coisa que me ocorreu quando soube da novidade. Que obsessão a minha, bolas]
Tuesday, May 04, 2004
comentários solidários
Do meu ex-namorado (de cinco anos):
- A sério? Já viste, estás como aquela música do Chico:
"A cachaça
Está parada
Rejeitada
No Barril"
- A sério? Já viste, estás como aquela música do Chico:
"A cachaça
Está parada
Rejeitada
No Barril"
Monday, May 03, 2004
Deprê
Hoje, quando cheguei a casa, tinha uma carta onde me informavam que não tinha sido seleccionada para um curso no estrangeiro a que me tinha candidatado. Já tinha passado as primeiras duas fases de eliminatória e estava plenamente convencida que a terceira era meramente administrativa, dado que não tinha tido que prestar mais provas desde então. Foi um belo banho de água fria. Gelada, mesmo.
Vou beber um chocolate quente e vou para a cama para não ter que lidar com a rejeição.
I’ll think about it tomorrow.
Vou beber um chocolate quente e vou para a cama para não ter que lidar com a rejeição.
I’ll think about it tomorrow.
Sunday, May 02, 2004
Lamechices
Desculpem lá esta lamechice toda do dia da Mãe. Saí de casa há pouco tempo. O que era para ser um único post tornou-se neste monstro de lembranças (a que não foi alheio o almoço em família comigo a protagonizar o bobo da corte).
Acho que devia ter chamado este blog de “mimada.blogspot”… (humm, there’s an idea)
Acho que devia ter chamado este blog de “mimada.blogspot”… (humm, there’s an idea)
Pestinha
Quando era bem miúda e discutíamos, escrevia-lhe bilhetinhos a explicar o quanto me tinha magoado, evitava utilizar a palavra “Mãe” e passava a tratá-la por você – para manter as distâncias, claro.
A verdade é que nunca durava muito, porque não conseguia ficar mais do que umas horinhas amuada e adorava fazer as pazes. Ainda é assim.
A verdade é que nunca durava muito, porque não conseguia ficar mais do que umas horinhas amuada e adorava fazer as pazes. Ainda é assim.
Mãe
Tem o dom de me conseguir exasperar com pequenos detalhes. A minha irmã já conseguiu aprender a lidar com ela. Quando a chateia, para não entrar em discussões, ignora, finge que não ouve. Eu não consigo. Tenho as emoções muito mais à flor da pele. Sempre tive. Para o bem e para o mal. Com a distância as coisas melhoram, obviamente. Os tais detalhes exasperantes do quotidiano não atrapalham tanto, não enchem o copo tão depressa.
E olhando para trás, esteve sempre comigo, ao meu lado, por mim. Quando saí de casa disse-me que as portas estavam sempre abertas. Como tinham estado sempre, mesmo quando as lágrimas teimavam em não me deixar ver.
E olhando para trás, esteve sempre comigo, ao meu lado, por mim. Quando saí de casa disse-me que as portas estavam sempre abertas. Como tinham estado sempre, mesmo quando as lágrimas teimavam em não me deixar ver.
Saturday, May 01, 2004
PoWs e a superioridade moral do ocidente
As imagens do tratamento desumano e as condições degradantes nas prisões iraquianas que nos entraram pela televisão a dentro nos últimos dias, a juntar às suspeitas de não se tratarem, segundo a Amnistia Internacional, de casos isolados, são chocantes. Mostram-nos cruamente uma ocupação que se pauta pelo mais elementar desrespeito pelos direitos humanos e dignidade daqueles que se propôs “libertar”. São consideradas humilhações não só para os iraquianos como para todos os árabes e servem justamente os propósitos de Al-Qaedas e afins.
A ideia que grande parte do mundo fazia da ocupação vinha irreversivelmente a tender para a repulsa. Mas, mais do que um número inaceitável de mortes civis que rapidamente se tornam estatísticas, custa ver pirâmides humanas de corpos nus causadas por exércitos que, ainda assim, se deveriam reger pelos padrões que temos como correctos. A justificação dos danos colaterais fica irremediavelmente posta de parte e a linguagem desculpabilizadora dos “excessos” é moralmente incómoda.
Frases como “I didn't like it one bit” não chegam para restabelecer qualquer espécie de legitimidade que alguns acreditaram ter chegado a existir. Tudo isto é um contributo repugnante para a percepção que a maioria já partilha de que a ocupação está a fugir de controlo e que a concretização dos objectivos invocados – neste caso, em especial os “humanitários” e da criação de uma democracia – estão cada vez mais longínquos. Independentemente da posição que cada um tem sobre a guerra, esta verdade já não dá para escamotear.
A ideia que grande parte do mundo fazia da ocupação vinha irreversivelmente a tender para a repulsa. Mas, mais do que um número inaceitável de mortes civis que rapidamente se tornam estatísticas, custa ver pirâmides humanas de corpos nus causadas por exércitos que, ainda assim, se deveriam reger pelos padrões que temos como correctos. A justificação dos danos colaterais fica irremediavelmente posta de parte e a linguagem desculpabilizadora dos “excessos” é moralmente incómoda.
Frases como “I didn't like it one bit” não chegam para restabelecer qualquer espécie de legitimidade que alguns acreditaram ter chegado a existir. Tudo isto é um contributo repugnante para a percepção que a maioria já partilha de que a ocupação está a fugir de controlo e que a concretização dos objectivos invocados – neste caso, em especial os “humanitários” e da criação de uma democracia – estão cada vez mais longínquos. Independentemente da posição que cada um tem sobre a guerra, esta verdade já não dá para escamotear.
So in love
Strange dear, but true dear
When I'm close to you, dear
The stars fill the sky
So in love with you am I
Even without you
My arms fold about you
You know darling why
So in love with you am I
In love with the night mysterious
The night when you first were there
In love with my joy delirious,
When I knew that you could care
So taunt me, and hurt me
Deceive me, desert me
I'm yours, till I die
So in love, so in love
So in love with you, my love, am I
Voltei a ouvir esta canção com o Foreign Sound do Caetano. Trouxe de volta aquelas memórias com som, cheiro e tudo o resto. É imperdoável, tinha-me quase esquecido dela. Já não a ouvia há muito tempo, desde que fiz uma colectânea de músicas deste género para o meu namorado de então quando estava a estudar fora. Sou o que eu própria não tenho pejo em chamar de estupidamente romântica. Mas não foi tão foleiro quanto soa (e se foi também não interessa nada). Representou, na altura, um dos muitos gestos essenciais para sobrevivermos à distância. E que bem acompanhados estávamos.
When I'm close to you, dear
The stars fill the sky
So in love with you am I
Even without you
My arms fold about you
You know darling why
So in love with you am I
In love with the night mysterious
The night when you first were there
In love with my joy delirious,
When I knew that you could care
So taunt me, and hurt me
Deceive me, desert me
I'm yours, till I die
So in love, so in love
So in love with you, my love, am I
Voltei a ouvir esta canção com o Foreign Sound do Caetano. Trouxe de volta aquelas memórias com som, cheiro e tudo o resto. É imperdoável, tinha-me quase esquecido dela. Já não a ouvia há muito tempo, desde que fiz uma colectânea de músicas deste género para o meu namorado de então quando estava a estudar fora. Sou o que eu própria não tenho pejo em chamar de estupidamente romântica. Mas não foi tão foleiro quanto soa (e se foi também não interessa nada). Representou, na altura, um dos muitos gestos essenciais para sobrevivermos à distância. E que bem acompanhados estávamos.
Eternity
Algo me diz que não sou a única a ficar subtilmente comovida com o anúncio da Calvin Klein.
Poesia
«A verdadeira poesia não é a que elimina a dor, mas a que lhe dá sentido.»
[Eduardo Prado Coelho, Público, 27 Abril 2004]
[Eduardo Prado Coelho, Público, 27 Abril 2004]
Pedido de principiante
Querida Bomba,
“Confessar” é demasiado importante. Para além de necessitarmos de um verbo que – precisamente como refere – é dito sem hesitações, admitir soa sempre a algo contrariado, coagido. Confessar é espontâneo, é entrega. Só dá para dizer “confesso que estou perdidamente apaixonada”. Seria uma pena expurgá-lo do uso corrente. E se a bomba o fizer, eu, como leitora dedicada, vou ter que obedecer. Que tal um compromisso? Podemos, ao menos, não o abandonar nestas circunstâncias? παρακαλώ.
“Confessar” é demasiado importante. Para além de necessitarmos de um verbo que – precisamente como refere – é dito sem hesitações, admitir soa sempre a algo contrariado, coagido. Confessar é espontâneo, é entrega. Só dá para dizer “confesso que estou perdidamente apaixonada”. Seria uma pena expurgá-lo do uso corrente. E se a bomba o fizer, eu, como leitora dedicada, vou ter que obedecer. Que tal um compromisso? Podemos, ao menos, não o abandonar nestas circunstâncias? παρακαλώ.
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