Thursday, March 31, 2005

À prova de enganos

O meu problema não é topar quando eles “não estão a fim” – sou bastante perspicaz nesse campo – mas o contrário. As tapadas (como eu) agradecem apaixonados que cometem loucuras explícitas. Tudo o resto, além de prosaico, é demasiado equívoco.

Tuesday, March 29, 2005

A ervilha

- Tenho uma surpresa para te contar.
- Estás grávida. [Ando com a mania de responder isto sempre que alguma das minhas amigas inicia assim uma conversa.]
- Pois estou! [E, pela lei das probabilidades, alguma vez tinha que acertar.]
- A sério?
- Estava com atraso, bateu-me aquele feelling e fui tirar teimas.
- Que bom, meu amor. Fico mesmo contente! Estás de quanto tempo?
- Seis semanas. Já fui fazer a ecografia: é uma linda ervilha!
- E o J.?
- Ia morrendo quando lhe contei.
- Reagiu mal?
- Nem por isso. Primeiro ficou em estado de choque. Depois começou a telefonar aos amigos e foi comemorar. Quando voltou tarde para casa, bateu-lhe outra vez e não parava de repetir «um filho, um filho». Desde então vai variando entre a euforia e o peso da responsabilidade.

Monday, March 28, 2005

Porque desconfio que me lês às escondidas

Um beijo enorme, neste dia.

Saturday, March 26, 2005

Se não se pensa noutra coisa

E ainda assim, quando acontece, dizemos "nunca pensei sentir isto" é porque o «isto» real supera o «isto» idealizado. E, convenhamos, para a realidade superar a fantasia, só mesmo tratando-se «disso».

Friday, March 25, 2005

Blog zapping (XIII)

«O problema não é a vida sem ti. Já tive uma vida assim e eram dias que faziam todo o sentido. Difícil é uma vida depois de ti. O depois não acaba nunca.»

[Sofia, Constatação]

Thursday, March 24, 2005

Revisão dos trinta

- Já vais?
- Vim só mesmo tomar um cafezinho rápido. Tenho que voltar para o hospital.
- Hospital? Estás doente?
- Não, estou a fazer uns exames. De manhã fiz uma radiografia aos pulmões, um electrocardiograma e fui ao ortopedista por causa daquela queda há umas semanas; ainda me falta tirar sangue para as análises; amanhã vou ao oftalmologista…
- Tudo isto, assim por acaso, não terá nada a ver com o facto de teres acabado de fazer trinta anos, pois não, meu querido?
- Não me chateies.
- Olha, e isto dá-vos muitas vezes ou só uma por década?

Wednesday, March 23, 2005

Excelente

Este texto do Pedro Oliveira sobre o Iraque.

Tuesday, March 22, 2005

Primavera II

O Inverno do próximo ano visitou-me em sonhos. Dou por mim a enviar uma mensagem em código – «está um frio…»; vejo-a a ser recebida por um sorriso deslumbrante; e aguardo, ansiosa, pelo toque da campainha.

[Tenho a declarar que o Sr. Blogger virou moralista e resolveu censurar este post durante dois dias, a ver se eu ganhava juízo. Como se vê, não resultou.]

Monday, March 21, 2005

Primavera I

A chegada da Primavera vem acompanhada da conta do gás (vulgo, do aquecimento central) dos últimos meses.
Ao olhar para os valores, solto um berro indignado e concluo: é nisto que dá não ter companhia durante o Inverno.

Blog zapping (XII)

«As festas existem precisamente para as pessoas «verem» e serem «vistas». Eu iria a todas as festas possíveis e imaginárias se numa festa a gente só «visse». Mas a parte de «ser visto» faz de mim um homem caseiro.»

[Pedro Mexia, Ver e ser visto]

Sunday, March 20, 2005

Ser mulher é difícil – parte II

A pouco mais de uma hora para estar na igreja eis que surge um rasgão inesperado nos collants. (Belo timming…) Segue-se uma desesperada procura por um par igual em todas as gavetas do armário que se revela infrutífera. Opto por uma apressada muda de roupa e uma corridinha até ao supermercado. (Empresto sempre o carro nas piores alturas.) Collants sem biqueiras – daqueles para usar com sandálias, sem costuras – não existem. (Claro, era demasiado fácil.) De táxi até ao centro comercial mais próximo, a busca angustiada chega, finalmente, ao fim. Tanta agitação exige novamente um banho e um jeito no cabelo. Com bem mais de meia-hora de atraso em relação ao planeado, estou de volta à fase pré-rasgão. A maquilhagem é demorada – especialmente em cima das escoriações das pernas para ver se disfarça qualquer coisinha. Quase pronta, dou conta da ausência dos acessórios previamente escolhidos. (O stress não podia terminar já.) Depois de muito puxar pela cabeça e revirar a casa do avesso, lembro-me que ficaram numa bolsinha, no hall de entrada em casa dos pais, no almoço de ontem. Decido-me novamente pelo taxista amiguinho e desmarco a boleia combinada. (A L. mata-me se não a vejo a entrar na igreja por causa de percalços femininos.) Rápida paragem em casa dos pais – mas demorada o suficiente para ainda ouvir a minha Mãe a refilar o «és sempre a mesma coisa». (Nem respondo; quem está sempre a horas não entende que quem costuma chegar atrasado tem geralmente bons motivos.) Chego à igreja a queimar mas ainda a tempo. Abrando o passo, respiro fundo e ponho aquele ar de quem tinha tudo controlado.

Saturday, March 19, 2005

Ser mulher é difícil

Ora as calças creme a virar para o dourado não me servem (encolheram, só pode); as pretas devem estar perdidas algures que não as encontro; o tailleur aborrece-me de morte; a saia comprida azul não pode ser que o casamento é de manhã; a saia grená abaixo do joelho está démodé… enfim, resta-me optar pelo vestido curto que combinar melhor com as escoriações.

[Que inveja do fato e gravata e... já está.]

Friday, March 18, 2005

«Obscene wealth becomes you»



[oh... so that’s what’s missing]

Thursday, March 17, 2005

Blog zapping (XI)

«Vejo os olhos delas
À saída do filme.
Dizem: gostei,
Mas esperava mais.
Foi justamente por isso
Que Ramón não quis viver.
As expectativas delas
São sempre excessivas
Mesmo quando estamos
Tetraplégicos.»

[Luís, Mar Adentro]

Wednesday, March 16, 2005

Riscos de ser lida

(por certas amigas)
- Ai achas que “essa instituição” precisa de ser reformulada, que não há paciência para strippers, ligas e gajas histéricas? Óptimo: ficas tu encarregue de organizar a minha.

Tuesday, March 15, 2005

Blog zapping (X)

«Não estranhem a falta de assiduidade, mas estou apaixonado. Agora tudo o que tenho vai para mensagens escritas. Cada sms é um projecto para o dia todo. Começa a ser planeado, até escrito, horas antes do envio. Fica arrumado nos rascunhos do telefone à espera da hora certa. O instante é fundamental numa situação tão delicada. É preciso deixar a mensagem em repouso durante um certo tempo para ver se continua pertinente, para ter a certeza de que resiste. Nos casos mais arriscados aconselho até que se durma sobre o assunto para escrever com a força da noite, mas só decidir com a serenidade da manhã. Depois perde-se imenso tempo a medir o intervalo entre envios. É uma tarefa complexa, o que explica esta ausência.»

[Luís, Também não tenho fotografias novas da rua]

Monday, March 14, 2005

Feminista medianamente aguerrida

Se me puserem no meio do trânsito, em pleno jogo de futebol ou a ouvir o Fórum Mulher da TSF, as palavras que sairão da minha boca terão muito pouco de espírito corporativista. Mas – há que dizê-lo com frontalidade – a igualdade de oportunidades neste país não caminha em sentido ascendente mas aos zigue-zagues.

Sobre as mulheres e a política (portuguesas)

Desde quando é que voltou a ser politicamente correcto ser-se machista e defender a paridade coisa de feministas ultrapassadas?
Deve-me ter passado ao lado.

Sunday, March 13, 2005

Net threats

«Can you believe it - this is the third request to join Pedro's mobile friends network. Simply click the link below to confirm your relationship with Pedro. Don't you want to be invited by your friends?»

Está bem, está bem. Também não era preciso ameaçar a exclusão da vida social.

Saturday, March 12, 2005

Despedidas de solteira/o

Junta-se uma dose de “desespero” com outra de “histerismo” e mais uns quantos detalhes picantes e temos os ingredientes para a receita – com proporções variáveis e equilíbrios distintos – de uma “noite de gajas” um bocado deprimente. Em especial para quem tem oportunidade de assistir ao espectáculo de fora, claro.
As despedidas mais arrojadas – que se recusam, por uma questão de paridade, a ficar atrás das noites masculinas – dispenso bem. Considero um valente turn down aquela coisa do culturista com chapéu de marinheiro, super musculado e tatuado, a abanar o fio dental do superhomem à frente do meu nariz. As mais conservadoras, que se repugnam com um show mas não resistem ao que julgam ser um toque de atrevimento, recheando o jantar com vibradores gigantes, ligas, tanguinhas rendadas e preservativos comestíveis, também são embaraçosas.
Ainda assim, as despedidas organizadas por e para homens não são melhores. Além de pouco originais - não há despedida que se preze que não exija a contratação de uma menina ou a deslocação a um show de strip -, a eterna competição entre noivo e convidados para ver quem se baba mais parece-me particularmente decadente.
Esta “instituição” já merecia uma remodelação. Até lá, consumir mais vodkas que o habitual, dar um pezinho de dança e acabar a noite a extrair detalhes sórdidos da lua-de-mel parece-me a melhor opção.

Friday, March 11, 2005

Thursday, March 10, 2005

«Então, está melhor?»

No trabalho, na mercearia da esquina, no cabeleireiro. À primeira vista, a tónica parece ser a preocupação. À primeira vista. Porque, logo de seguida, começam os relatos. De outros acidentes, claro está. Viu aquele ontem na televisão? Dois mortos. Esse nem foi nada. E o da semana passada? Quatro. Eu vou respondendo por monossílabos, a tentar dar a entender que preferiria uma rápida mudança de tema. Mas serve de pouco. Ontem, o relato atingiu o seu auge. Depois de descrever o mais ínfimo detalhe, segue-se a brilhante conclusão: pois é… deste primeiro acidente, a prima do meu cunhado ainda se safou; no segundo, ficou-se. Mas não estou a agoirar. E ri-se. E eu estupefacta.
Esta malta não quer verdadeiramente saber como estou; quer é a deixa. O bom portuguesinho adora contar uma desgraça.

Tuesday, March 08, 2005

Lembrete (no telemóvel)

vanessa público dia mulher

Monday, March 07, 2005

Um ano

A encurtar a distância e a aconchegar o coração.
Parabéns, Muskinha, pela tuas – agora nossas – doces lembranças!

Pequenas delícias (III)

Este poema.

Saturday, March 05, 2005

Bombardeamento de telefonemas e sms

- Novidades fresquinhas da pátria: já se conhece a constituição do governo.
- Então?
- Adivinha quem é o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros.
- Vitorino?
- Nem sequer está no governo.
- Luís Amado? [Abro um parêntesis para confessar que, com ele, estaríamos (esteticamente) muito bem representados.]
- Não.
- Por favor não digas Lamego.
- Nope. Independente. Supostamente mais chegado à direita. E daí… talvez não.
- Não estás a querer dizer Freitas do Amaral, pois não?
- Oh yes.

Friday, March 04, 2005

LLN

O comboio chega finalmente ao seu destino. Entretida a pensar nos muitos lugares onde preferia estar, só saio quando me apercebo que fiquei sozinha na carruagem. Procuro um táxi à saída da estação, onde é costume aguardarem viajantes que chegam esperançados, desgostosos ou indiferentes (como eu), e não descubro nenhum. Esforço-me para desenferrujar o meu francês e averiguar a razão de tal ausência. A cidade universitária não está fechada ao trânsito automóvel mas, sabe-se lá porquê, táxis só chamando da cidade mais próxima e fica estupidamente caro. O autocarro também não é opção: não circula na zona do hotel. Mas não se preocupe, mademoiselle, é perto – 15 minutos a pé. O problema é que está a nevar e estou carregada. Pois… mas faz-se bem. Gorro e luvas ficaram onde fazem falta: em cima da minha cama, em casa. Agasalho-me o mais que posso e lanço-me, com mais indiferença que coragem, na intempérie. O “rápido” trajecto, com desvios, interrupções para perguntar a direcção, e pausas para descansar do peso da mala, transforma-se em 25 minutos. Com graus negativos, a nevar a sério e apenas o cachecol a tapar a cara.
À chegada ao hotel, gelada e encharcada, encontro alguns dos restantes participantes da reunião – alemães, holandeses e austríacos – acabados de fazer o mesmo percurso. Contudo, todos eles apreciam a distância, ignoram o tempo inóspito, não se revelam surpresos pela falta de transporte e congratulam-se pelo exercício físico extra.
Eu preciso de um banho a ferver, uma massagem e um belo jantar. E, ao som das músicas que escolhi para me acompanharem nesta viagem, dou por mim a pensar no conceito de «país civilizado».

Sabedoria aos pedaços (1)

«Só que os desesperos em causas de amor ao amor aportam, infalivelmente.»

[João Bénard da Costa, “Morrer face ao Outono”, Público, 4.03.2005]

Tuesday, March 01, 2005

Falsas ou verdadeiras: eis a questão



A dúvida angustiada do Bruno comove-me. A sério.
Acho enternecedora a sua tentativa de descobrir se as mamas da Salma Hayek são falsas ou verdadeiras através dos filmes em que entra ou dos vestidos que leva às suas aparições em passadeiras vermelhas. Tendo em conta os meios que estão hoje à disposição para tirar teimas, nomeadamente na internet, acho a sua limitação a estes pequenos momentos, por imposição própria, de uma candura deliciosa.
Mais curioso ainda é o tom com que o Bruno o faz: é patente o receio de levantar um “falso testemunho” contra a actriz, como se, de alguma forma, isso a subestimasse. É o nosso querido blogger em plena posição “contra-hegemónica” – para usar uma expressão do seu agrado – face à grande maioria dos homens que nada tem a objectar, muito pelo contrário, perante fenómenos tipo Sofia Aparício e Marisa Cruz.
Feita esta pequena apreciação, apetece-me, pelo enternecimento que me causou, dar uma pequena ajuda na sua preciosa tarefa.

Querido Bruno, há pelo menos três formas de fazer a distinção – de longe! – entre mamas verdadeiras e falsas. A saber: se são artificialmente redondinhas; se se sustêm sozinhas; e se se mexem pouco.
O arquitecto do decote, como lhe chamas, pode, de facto, ser enganador. Um bom decote deve apoiar bem o peito, para evitar as fugas e as mãos permanentemente a puxar aqui e ali – algo que é socialmente censurável. Daí que, em caso de decotes pronunciados e precisamente para que, desde o início até ao final da noite, esteja tudo no sítio, há a tendência para as… como hei-de dizer… aconchegar. Ora quanto mais se juntam, e quanto maior o decote, mais elas parecem redondas demais para ser verdadeiras – o que pode ser, afinal, uma avaliação incorrecta.
À prova de enganos é, sem dúvida, a observação de uma rapariga a dançar sem soutien. Very few girls can pull this off. Se conseguirem, ou são muito pequeninas ou há silicone por ali.
Quanto à tua musa da noite dos Óscares, nesta fotografia em cima, não me parece que houvesse mão de cirurgião. Pelo tipo de decote não parece usar soutien e o peito está descaído q.b. – isto é, descaído o suficiente para a equação tamanho-idade. Mas esta foto foi tirada em 1999 e não encontrei nenhuma mais recente e igualmente reveladora.
Mantendo-me no registo que escolheste, resta-me aconselhar-te a procurares uma fotografia da Salma Hayek de bikini. É o mais próximo da nudez total mas sem te retirar o gosto pelo mistério.

[Isto saiu um autêntico tratado sobre peitos e decotes. E eu que só queria contribuir para o esclarecimento do Bruno.]