Sunday, October 31, 2004

Reconvertida

Quando o Caetano andava “na boca do povo” – basicamente com o Prenda Minha – tive alguma dificuldade em lidar com isso. Tipicamente, os nossos ídolos queremo-los só para nós. O esforço de distanciamento foi, porém, inútil. Rapidamente me apercebi que era preferível partilhá-lo com a multidão anónima do que perdê-lo. E, hoje em dia, até me provoca um sorriso irónico ouvir dizer «o Caetano já enjoa». É sinal de que, lentamente, regressa para o seu público mais aficionado.
Entretanto, enquanto esse momento não se concretiza, arranjei um truque: quando tenho desses laivos de egoísmo musical, ponho um álbum mais antigo como o Caetanear e finjo que mais ninguém o conhece.

Desabafo

Se algum dia me voltares a procurar, como eu ainda espero – mas de forma involuntária, já sem esperar convictamente –, vejo-me a cantar o “Cry me a river” como o Caetano: de mão na anca e com ar de deleite.

Momentos rolleiflex (III)

Sem querer escolher os pontos altos do concerto – tarefa especialmente difícil e que traduz inevitavelmente para onde o coração pende – houve três momentos em particular que me deixaram profundamente comovida:
- “The man I love” – uma explosão de doçura arrepiante;

- “Feelings” – música típica de elevador, como alguém dizia, difícil de interpretar sem cair na banalidade e que o Caetano conseguiu, de uma forma realmente espantosa; como só ele consegue;

- “Cucurrucucú Paloma” – tão bem cantado que fez escapar uma lágrima espontânea e envergonhadamente reprimida.

Arrebatador



Há uma semana atrás, fui ver o concerto que não perderia por nada. Não sei explicar por que ainda não me tinha apetecido escrever sobre isso, nem por que me está a apetecer fazê-lo agora. Algum momento de melancolia tardio, imagino, e que já não será minimamente pertinente. So just bear with me, will you?

O concerto foi delicioso. Como diz o Eduardo, não preferia ter estado em nenhum outro sítio.
Ainda que o Pavilhão Atlântico não seja obviamente o local mais adequado para um espectáculo deste género – demasiado grande, impessoal e com umas condições acústicas que deixam muito a desejar – o Caetano esteve no seu melhor. A sua voz terna e melodiosa como nenhuma outra; a sua presença em palco radiante; e o espectáculo surpreendente: não se limitou a reproduzir o Foreign Sound, brindando o público com músicas inesperadas, incluindo um belíssimo samba inédito.
Não era nada fácil estar à altura das minhas expectativas mas saí verdadeiramente rendida.

[E – confesso – durante as duas horas de concerto, apanhei-me reiteradamente a imaginar como seria acordar com alguém com uma voz assim do meu lado. Alguém a quem sussurrar «canta-me ao ouvido», logo pela manhã. Isto se conseguisse sequer adormecer…]

Faltam

As conversas de lareira enroladas em cobertores, Alexandre.

Saturday, October 30, 2004

Faz hoje anos

Alguém que ilumina a minha vida.

Friday, October 29, 2004

Se o oceano entre nós

É assim tão intransponível, por que razão a maré insiste em puxar-me para a tua margem?

Thursday, October 28, 2004

Estava tão entretida

Que me esqueci de comemorar uma certa data. Valeu-me a Muska e as suas belas lembranças.
É verdade, passaram-se seis meses. Has it been good for you too?

Wednesday, October 27, 2004

Bem...

Que beijo longo, não?

Wednesday, October 20, 2004

Um beijo mais ou menos assim


O beijo, Gustav Klimt
Óleo sobre tela, 1907-1908

Tuesday, October 19, 2004

Craving for contact

Às vezes, dou por mim a desesperar por um beijo bem dado.
Um beijo só, sem mais nada.
De um perfeito desconhecido, sem mais complicações.

Monday, October 18, 2004

No aguarela

Os «meus blogs» não se perdem, transformam-se.
Em cores de fundo.

Tenho tanta pena



O Moleskine da Inês durou exactamente seis meses e uma semana. E, ao contrário da maioria dos blogs que já não existem, o the end surge numa altura em que a sua autora confessa ainda tirar um enorme prazer de vir aqui rabiscar. Quando esteve farta ou chateada, resistiu.
Pelo que nos confidencia, a decisão remete genuinamente para uma daquelas cambalhotas nas vidas de todos nós que não comportam arrastar consigo resquícios de um tempo que queremos dar por findado. Um blog deixa uma marca indelével das nossas vivências associadas a um determinado período temporal e que, para a Inês, chegou a altura de deixar para trás. Representa um passado que quer conservar passado porque desprovido de sentido num novo presente.
A Inês comprou um novo Moleskine, que, para meu desconsolo, já não se sente impelida a partilhar connosco. Inicia-se a 17 de Outubro de 2004 e espero que se encha de cores e sorrisos.
Este – que muitas vezes me aconchegou o coração – ficou guardado, para revisitar quando as saudades apertarem.

Esta nova inquisição

De que falam Buttiglione e o cardeal Raffaele Martino será, nas suas cabecinhas e para usar a expressão de Gilles Kepel, “a vingança dos ateus”?

Sunday, October 17, 2004

E eu fiquei assim

Especialmente nostálgica.

Saturday, October 16, 2004

A não perder

A peça “Urgências”. Belíssimos actores a dar vida a belíssimos textos. What more can you wish for?
Vou-me escusar a comentar peça por peça por causa daquela minha dificuldade em ser isenta

É urgente… ir ao teatro. A este teatro.

Friday, October 15, 2004

República das Bananas

É um eufemismo, não é?

Thursday, October 14, 2004

Quero

Mas, inegavelmente, pareço não conseguir.

Posso

Mas, estranhamente, pareço não querer.

Wishful thinking

Há dias em que gosto de pensar que nunca exististe. Que és fruto da minha imaginação e que, tal como te criei para fazeres parte da minha vida, posso apagar-te, sem deixar rasto nem memória.

Você não me ensinou a te esquecer

Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

(Caetano Veloso)

Wednesday, October 13, 2004

Sem dúvida, a frase do ano

«(…) a censura só existe na cabeça dos que a já fizeram e sabem como se faz (…)»

[Convenhamos, o Luís Delgado está cada vez melhor como entertainer.]

Monday, October 11, 2004

29 anos de casados

E nunca falha. Chega a casa acompanhado de um sorriso e um presente especial para quem o espera invariavelmente.

Parabéns!

Há quem tenha a sorte de ser linda de morrer, inteligente, doce, divertida, dona de um olhar que derrete qualquer um e um riso inconfundível que dá gosto ouvir.
E há quem tenha a imensa sorte de ser amiga de alguém assim.

[Sei que este ano não tem sido nada fácil. Mas – podes acreditar – o destino conspira para que tudo dê certo para alguém como tu.]

Sunday, October 10, 2004

Dispensava confirmação

O José Eduardo Agualusa [suspiro]



deixa-me meia zonza… [duplo suspiro]

Suspeita confirmada

[na gala do Inimigo Público]

O “bomba” da bomba inteligente é real. O que significa, portanto, que o nome se aplica na totalidade.

Impressiona-me tanto

A serenidade magoada do Luís.

«E é óbvio que estas são palavras de uma esperança vã, que nada serve. É apenas o carinho que sobrevive ao amor. Porque o amor continua mesmo quando acaba. E, quando é dos bons, a gente nem quer que acabe. Porque é maior do que a dor e muito melhor do que o nada.»

Saturday, October 09, 2004

Mulheres excepcionais

Pelo contrário, gosto sempre que o Nobel da Paz me surpreenda.


[Wangari Maathai]

É tão reconfortante descobrir uma nova causa.

Confissão de ignorância

É verdade: não conheço Elfriede Jelinek, a dramaturga austríaca recentemente laureada com o Prémio Nobel da Literatura.
Não fico contente quando o referido Nobel é atribuído a um nome que me é desconhecido – vergonha perante a minha colossal ignorância será a melhor descrição da sensação que me invade, quase todos os anos, por esta altura. E também um pânico sufocante sempre que me apercebo de que a minha ambiciosa pilha de “must read”, há uns anos atrás confinada à minha mesinha de cabeceira, se espalha hoje pelo quarto, escritório, sala e ameaça afundar-me no meu quase analfabetismo – ignorando com altivez o meu penoso esforço de conseguir dominar os clássicos clássicos e ainda os clássicos contemporâneos e ainda as novas gerações de escritores brilhantes…
E eis que, no meio do descontrolo e da auto-flagelação, chega o alívio: o Francisco José Viegas não a conhece. Sim, li bem: fala, com contentamento, de um “livro insuspeitado”. Uma emoção que certamente nunca virei a conhecer mas que, por agora, me deixa mais descansada. (Descansada, aliás, ao ponto de o poder humildemente confessar.)

Friday, October 08, 2004

Distracções

O Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para se demitir e passar a imagem de vítima:
a) porque já lá vão quatro anos e a coisa começava a fartar;
b) porque o seu otorrinolaringologista andava preocupado com as constantes rouquidões às segundas-feiras;
c) por pura táctica negocial para ver se ganhava mais e conseguia, finalmente, levar a Rita Amaral Cabral a passear às Caraíbas;
d) porque o inteligente do Santana Lopes lhe deu uma óptima oportunidade (difícil de resistir) de vencer o primeiro round sem ter sequer que calçar as luvas;
e) por motivos eleitorais – está a pensar candidatar-se a prlesidente da junta não sei de onde;
f) para poder ter o privilégio de ser recebido em audiência por Sua Excelência o Presidente da República
g) para ter o gostinho de assistir ao Cavaco Silva a falar em sua defesa.

E, por algum acaso, é verdadeiramente isto que interessa?

Não é suposto

Um tal de Alto Comissariado para a Imigração e as Minorias Étnicas estar atento a estes laivos de xenofobia?

Conversas de livraria

[Entre duas adolescentes. Não tão novas quanto isso…]
- Que livro é que estás à procura?
- Frei Luís de Sousa.
- Eu ajudo-te.
[E resolve dar uma vista de olhos na secção “Política”.]
- Achas que estás aí?
- Sei lá. Pode estar.

Thursday, October 07, 2004

Dilema temporal

Parece ser sempre assim: efémero quando o queríamos eterno e moroso quando o queríamos fulminante.

Wednesday, October 06, 2004

Se eu soubesse

...Que morrendo
......Tu me havias
........De chorar
..........Por uma lágrima tua
............Que alegria
..............Me deixaria matar


(Lágrima, Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves)

Monday, October 04, 2004

«Mimos curam»

Claro que não é novidade; mas vale sempre a pena reiterar.

Sunday, October 03, 2004

Coitadinhos dos estudantes

Que não conseguem resistir à tentação.